Médico ajuda bebês elefantes órfãos a superar traumas

De acordo com osteopata, animais traumatizados têm sintomas semelhantes aos de humanos.

A pequena Wendi entrou em estado de choque quando viu sua mãe morrer e não conseguia respirar normalmente. Somente com a ajuda de um osteopata pioneiro o animal superou o trauma e cresceu normalmente.

A história de Wendi, um bebê elefante no Quênia, é uma das que Tony Nevin, que há duas décadas viaja pelo mundo tratando todos os tipos de lesões em animais selvagens, melhor se recorda.

Tudo começou quando Nevin, que até então tinha apenas pacientes humanos, ofereceu seus serviços em um centro de resgate de animais perto de sua casa na Inglaterra para ajudar um quati doente que não respondia a nenhum tratamento.
Desde então, Nevin tratou de elefantes a pássaros, morcegos, rinocerontes e cobras. E a chave muitas vezes são as emoções, disse ele à BBC Mundo.

Nevin é um osteopata, ou seja, alguém que trata doenças e dores manipulando coluna, músculos e articulações dos pacientes.

Pressão com as mãos “No caso dos bebês elefantes que ficaram órfãos, (eles) muitas vezes viram a mãe morrer nas mãos de caçadores e predadores. Esse choque tende a se manifestar de forma que o diafragma, a cabeça e o maxilar se contraem”, disse Nevin.

A tensão no diafragma faz com que o animal não respire normalmente e isso acaba afetando todo o seu sistema digestivo, impedindo-o de se alimentar corretamente ou responder ao tratamento convencional com remédios. Alguns animais não sobrevivem, outros vivem com problemas por toda a vida.

“É uma reação de reflexo, parecida com o sofrimento humano em casos de choque. No tratamento, uso as mãos e as mesmas técnicas que aprendemos em cursos básicos para tratar as pessoas.”

É como afinar um instrumento musical, no caso o sistema nervoso central, ou seja, cérebro e espinha dorsal, disse o osteopata à BBC.
Colocando delicadamente as mãos sobre o paciente, ele trabalha com a respiração para alterar o estado do diafragma, “liberando a pressão cuidadosamente como se afrouxasse um elástico”.

Com diferentes tipos de pressão, Nevin envia mensagens para o sistema nervoso central do animal.

“A medida que o elefante inspira e expira, eu altero a pressão com as mãos, o que envia mensagens para a coluna para aumentar a comunicação com o diafragma. Eu também posso usar os pontos de pressão na mandíbula para ajudar a relaxar os músculos nesta área corpo.”

Nevin diz que “é algo semelhante ao que acontece com uma pessoa, quando está muito tensa e range os dentes”.

Exercendo pressões de intensidades diferentes com as mãos para acompanhar a respiração do animal, Nevin restaura a comunicação entre os músculos e o sistema nervoso central “que sabe como operar normalmente, o problema é o estado de choque”.

A pneumonia é outra condição que pode afetar os órfãos de elefante, que não têm a proteção do corpo da mãe. “Elefantes não podem tossir, mas algum movimento pode ser feito para o fluido suba a partir dos pulmões para ser expelido.”

Mudança dramática Alguns elefantes respondem a um único tratamento, enquanto outros exigem várias sessões. Nos jardins zoológicos na Inglaterra, Nevin também usa câmeras infravermelhas que mostram problemas no fluxo sanguíneo do animal em uma tela.

O resultado pode ser dramático. “Você vê uma grande mudança no comportamento e na personalidade (do elefante). Lembro-me de um caso na Tailândia, o da elefante adulta Dah, que ficou aterrorizada por todos os ruídos da cidade e pelo bosque. Ela só andava unida pela tromba aos companheiros.”

Dah trabalhou arrastando troncos, mas quando o governo tailandês proibiu a exportação de algumas madeiras, os elefantes ficaram “desempregados” e foram levados para Bangcoc para trabalhar com turistas.

“Após duas semanas, pudemos tratá-la e liberar a tensão em seu corpo. A mudança foi dramática, ela só queria brincar. Os tratadores e eu ficamos com lágrimas nos olhos.”

As técnicas utilizadas são semelhantes no caso de outras espécies. “É como se fosse um computador. Você precisa reiniciar o sistema nervoso e existem muitas técnicas diferentes para fazer isso.”

Quando trata de cobras, Nevin recebe ajuda de suas pessoas, para que o animal “não se enrole em meu corpo”. “Cobras também têm tensão nos músculos”, afirma.

O interesse pelo uso da osteopatia em animais está crescendo e duas universidades, no País de Gales e em Londres, já oferecem cursos de pós-graduação. O osteopata diz que espera um dia poder trabalhar com grandes felinos e outras espécies na América Latina.

O reencontro Para Nevin, uma das maiores satisfações de seu trabalho é “ter o privilégio de trabalhar com animais selvagens que, quando eles são saudáveis, rejeitam qualquer contato, mas quando estão mal permitem que eu me aproxime”.

Outra grande alegria para o osteopata britânico é que os animais tratados voltem à natureza, como Wendi.

“Quando tratei dela, ela tinha três semanas de vida e estava com pneumonia. Sete anos depois, eu estava em um lago no Parque Nacional de Tsavo, no Quênia, com vários bebês órfãos quando um grupo de elefantes adultos de aproximou. Um deles foi direto para mim e começou a me cheirar da cabeça aos pés, para a surpresa dos guardas do parque, que me perguntaram se eu conhecia o animal.”

“‘Ela tem sete anos?’, Perguntei. ‘Sim’, responderam, ‘e o nome é Wendi’.”

“Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida.”

Fonte: IG