Advogada apadrinha quatro irmãos e muda de vida em Araraquara, SP

“Fora da caridade não há salvação” é o ensinamento que a família Violante tirou das orações da última quarta-feira, dia da semana no qual se reúnem à mesa para rezar, conversar e jantar. Mãe, pai, filha – o outro filho estuda em outra cidade – e mais quatro irmãos de 10, 12, 15 e 16 anos, moradores de um orfanato, que foram apadrinhados pelo casal, terminam o ritual semanal antes de atender a reportagem do G1.

A rotina é a mesma desde novembro de 2009, quando a advogada Rosangela Aparecida Evangelista Violante acordou, mais tarde que o marido, o juiz Carlos Alberto Violante, e encontrou na mesa do café um jornal deixado por ele com uma reportagem em destaque. O texto tratava de um projeto da Vara da Infância e Juventude de Araraquara chamado “Amigo é para essas coisas”, em que mostrava casais que apadrinharam adolescentes ou crianças de orfanatos, dando-lhes algum tipo de ajuda como escola, bens materiais ou simplesmente carinho.

Rosangela não pensou muito e marcou uma entrevista. Estava decidida e “queria um molecão”. A assistente social, ao analisar o perfil do casal e mesmo sabendo que procuravam apenas um menino, não hesitou em indicar dois garotos que viviam no Orfanato Renascer: Roberto e Rodrigo. “Quem apadrinha um, apadrinha dois”, relembra a advogada, que marcou logo um passeio para toda a família.

Durante o encontro, em um evento musical do Sesc Araraquara, Roberto, o mais velho, fez um pedido que mudaria para sempre a vida de oito pessoas: “tia, posso trazer meus dois irmãos mais novos no próximo passeio?”

“Tratei logo de agendar um domingo em Bueno de Andrada (distrito famoso na região pelas coxinhas) para comer coxinha com esses quatro e não desgrudamos nunca mais”, conta a madrinha. Nascia então uma história de amor e doação entre Rosangela e os quatro R’s. Roberto, Rodrigo, Rivaldo e Rogério ganharam uma nova família às quartas-feiras, aos finais de semana, em todos os feriados e viagens de férias que viriam a seguir.

Vida em família

O primeiro passo dos Violante para começar a receber os quatro garotos em casa foi trocar o carro para um veículo maior. Em seguida, mudaram-se para um condomínio onde a residência tem mais quartos. “Fizemos tudo pensando em dar o maior conforto possível quando eles vêm nos visitar e também durante nossas viagens”, explica Rosangela.

Mesmo morando no orfanato, os garotos têm seus espaços na residência da família, além de escola particular, cursos e incentivo à prática de esportes. “Estamos aqui para tudo que eles precisarem”, explica a madrinha.

Constantemente, o casal viaja para Valinhos, a terra natal, onde possuem um sítio com lago, e também onde moram as mães e todos os irmãos. “Antes de morar em Araraquara nossa vida era lá. Por isso, voltamos em todas as oportunidades” diz Rosangela. A união da família, no entanto, é um mérito dos quatro R’s.

Segundo a advogada, tal como em muitas famílias, também havia alguns desentendimentos e relações abaladas. Após a chegada dos garotos, tudo se transformou. “Nosso primeiro Ano Novo com eles foi o melhor de nossas vidas. Hoje posso dizer que temos uma família perfeita. Todo mundo se uniu novamente. É algo impressionante”, emociona-se. A paz, no entanto, só existe quando eles estão por perto. “Não podemos chegar lá sem os meninos. Vira confusão”, brinca a madrinha.

Amor de mãe

Rosangela não consegue responder a uma única pergunta sobre os garotos sem colocar um sorriso nos lábios, exatamente como quando fala dos dois filhos de sangue. Ana Flávia, de 15 anos, e João Leonardo, de 21, dividem espaço no coração da supermãe com os quatro R’s sem nenhum problema. “Eles são especiais demais pra mim. Adoro brincar e dividir tudo com todos eles”, afirma Ana, a “princesa da casa”, como é chamada pela mãe.

Essa, por sua vez, se intitula a rainha. “Tenho um monte de guarda-costas e me sinto bem no meio deles. É uma energia incrível.” A energia parece ser recíproca, pois o nome de Rosangela está confirmado para a festa do Dia das Mães na escola dos garotos. “Eles não pensam duas vezes em me convidar. Lá vou eu chorar de monte recebendo as homenagens.”

A madrinha dos garotos explica que o único objetivo da família ao apadrinhar os meninos foi dar a eles um pouco de alegria e felicidade. Ela não esperava que a mudança fosse tão grande. “Posso dizer com toda certeza que eles fizeram muito mais bem a mim do que eu a eles. Os abraços deles não tem como pagar.”

 

 

 

 

Fonte: G1