Tendo um homem adquirido uma fazenda, encontrou-se, dias depois com um dos seus vizinhos.
– O senhor comprou esta propriedade? – perguntou-lhe o vizinho em tom agressivo.
– Comprei-a, sim, meu amigo!
– Pois sinto dizer-lhe que vai ter sérios aborrecimentos. Com as terras, comprou também uma questão nos tribunais.
– Como assim? Não compreendo!
– Vou explicar. O proprietário construiu uma cerca fora da linha divisória. Não concordo com a posição dessa cerca. Desejo defender os meus direitos e vou entrar com processo na Justiça.
– Peço que não faça semelhante coisa, retorquiu o proprietário. – Acredito na sua palavra. Se a cerca não está no lugar correto, iremos e consertaremos tudo de perfeito acordo.
– O senhor está falando sério?
– É claro que estou!
– Pois se é assim – respondeu calmamente –, a cerca ficará onde está. O senhor é um homem honrado e digno. Faço mais questão da sua amizade do que de todos os alqueires de terra.
Quantos problemas de relacionamentos poderiam ser evitados se uma das partes se utilizasse do bom-senso e cedesse. Muitas das ações que abarrotam os tribunais, só lá estão porque o orgulho ferido está presente nas partes envolvidas. A boa vontade de uma das partes pode por fim, como na narrativa acima, em uma disputa que pode gerar ao longo de anos desgastes emocionais desnecessários.
É claro que tudo que é adquirido legitimamente é uma propriedade e que temos o direito de defender, uma vez que a justiça está exatamente no respeito ao direito de cada um. A justiça é um sentimento natural que o homem possui e consiste no respeito aos semelhantes, mas, muitas vezes, a justiça é enfraquecida por sentimentos que fazem com que os homens a entendam de forma diferente. O que para uns é justo, para outros parece injusto.
O egoísmo exagerado leva o ser humano a olhar unicamente seus interesses e desprezar o interesse de seus semelhantes, numa atitude incompatível com a Lei de Deus; esta sim, imutável e apropriada a todos os tempos e não adequada aos desejos e conveniências dos homens.
O interesse pessoal e o apego exagerado às coisas materiais são obstáculos a conquistas de virtudes que elevam o espírito imortal que somos, nos precipitando em situações que atrasam o nosso processo de crescimento, além de nos envolver em situações que poderiam ser evitadas, como mágoas, ressentimentos e vibrações menos felizes que só nos fazem mal.
Como dizia Chico Xavier: “Uma mágoa não é motivo para outra mágoa. Uma lágrima não é motivo para outra lágrima. Uma dor não é motivo para outra dor. Só o riso, o amor e o prazer merecem revanche. O resto mais que perda de tempo é perda de vida”
Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.