Não é de hoje que álcool e adolescência são considerados uma combinação perigosa, mas que se atraem bastante. Com shots de destilados, drinques elaborados, funis e até jeitos estranhos e perigosos, como eyeballing – quando se pinga vodca no olho, a fim de ficar alto mais rápido -, adolescentes conhecem e curtem, cada dia mais cedo, os efeitos de uma bebedeira.
O Levantamento Nacional sobre Consumo de Drogas Psicotrópicas, realizado em 2004, com estudantes de ensino fundamental e médio, revelou que 69,8% dos jovens entrevistados (em uma amostra de quase 50 mil) já usaram álcool na vida. A idade média de início do consumo de bebidas alcóolicas preocupa tanto quanto o primeiro dado: a maioria dos adolescentes começa a beber aos 12 anos de idade! Desses, 7% faz um uso problemático e pode se tornar dependente.
André Brooking Negrão, psiquiatra formado pela Faculdade de Medicina da USP, explica que quanto mais precoce for o uso do álcool, maior a chance de o adolescente ter problemas por causa da bebida. “Com isso, sobem as chances de dependência química e o risco de dirigir embriagado, grande preocupação atual”, assinala o psiquiatra, em palestra sobre o uso de álcool por adolescentes, realizada pelo Colégio Santa Cruz, de São Paulo.
E por que o álcool é tão atraente para os jovens?
É importante lembrar que o álcool é uma droga e, ainda que seja legalizado no país, ele afeta nossa capacidade de julgamento e faz com que o organismo libere dopamina, neurotransmissor que aumenta sensação de prazer e motivação. Por isso, aumenta a impulsividade e desinibe.
Motivo pelo qual é bastante usado pelos adolescentes, que estão passando por uma fase de transição para a vida adulta e buscam aceitação.
“O álcool também pode ajudar o adolescente a ser aceito em um grupo”, explica Tiago Corbisier Matheus, psicanalista e doutor em Psicologia Social pela PUC-SP, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
O uso excessivo do álcool é ligado à tristeza?
Não, não está necessariamente ligado a jovens depressivos e tristes. É possível que um adolescente feliz e com bom relacionamento em casa, em busca dessa aceitação social, passe a beber com frequência. “Alguns fatores de risco podem determinar se ele entrará ou não nos 7% que faz um uso problemático ou dependente da droga”, acrescenta André Brooking Negrão, psiquiatra.
Quais são os fatores de risco?
Confira seis fatores que podem ser determinantes se o jovem entrará ou não nos 7% que fazem uso problemático ou dependente da droga:
1-Ter doenças psiquiátricas
Algumas doenças, como comportamento agressivo, déficit de atenção e hiperatividade, além aumentar a impulsividade e distração do adolescente, podem levá-lo a buscar aceitação social e beber mais cedo.
2 – Ter predisposição genética
Sabe-se bem que a dependência a drogas pode ser genética ou hereditária. Por isso, jovens com familiares de primeiro grau dependentes têm mais risco de se tornarem dependentes do que jovens sem histórico de dependência na família.
3 – Início precoce
Quanto antes o adolescente consumir bebida alcóolica, maiores as chances de se tornar dependente. Isso porque o cérebro ainda não está totalmente formado na infância e adolescência.
4 – Beber em casa, na presença dos pais
Há pais que acreditam que é melhor apresentar bebida aos filhos para que eles não bebam fora de casa. Segundo o psiquiatra André Brooking Negrão, acontece o contrário disso – “Quando se bebe dentro de casa, o ritmo do uso de álcool é mais rápido. Os jovens também tendem a beber mais fora de casa”, diz.
5 – Pais que não deixam claro sua opinião em casa, ou que não colocam regras e limites
Segundo pesquisas, jovens que não esperam que os pais tenham opinião sobre a vida deles – seja sobre a música que ouvem, a roupa que vestem ou até sobre álcool – bebem quatro vezes mais. “Inclusive, quando os pais deixam claro o que os desapontaria, tendem a influenciar se o filho vai ou não começar a beber. As crianças que temem desapontar os pais tendem a beber mais tardiamente”, diz o psiquiatra André André Brooking Negrão.
6 – Ambiente que frequentam
Viver sob estresse familiar pode ser um fator agravante para o jovem ter problemas com álcool. Frequentar locais com bastante oferta de álcool e drogas também. “É importante estar atento a pistas do jovem”, diz o psicanalista Tiago Corbisier Matheus. Que pistas são essas? Anote aí: Beber sozinho – escondido ou não;Esconder bebidas pelo quarto; Perder o interesse em atividades que antes gostava; Nervosismo quando não pode beber; Beber muito rápido apenas para ficar bêbado; Ter dor de estômago e vômitos sem explicação.
Seis dicas para manter seu filho longe do álcool
É inegável que os pais influenciam alguns comportamentos de seus filhos, por isso, a sua postura é fundamental para que seu filho mantenha distância do álcool e dos seus riscos. Confira atitudes simples que podem ajudar:
1 – Não ofereça bebida alcóolica em casa
Sabia que crianças e adolescentes que bebem dentro de casa tendem a beber também fora? “Por isso, não ofereça bebida para seu filho nem o deixe provar se for menor de idade”, sugere André Brooking Negrão, psiquiatra. O mesmo vale para festas de aniversário: em festas de adolescentes, não permita que tenha álcool – lembre-se que você será responsável pelos colegas de seu filho quando eles estiverem em sua casa! Se seu filho insistir para você liberar álcool na festinha dele, explique sobre a lei e sobre a importância de respeitá-la.
2 – Regras claras
Deixe sua opinião sobre álcool clara. “Quando a regra é clara de não beber, ainda que experimentem, os jovens não costumam pegar pesado no uso”, conta A André Brooking Negrão, psiquiatra. Converse sobre o assunto – não apenas cobre atitudes, acrescenta Tiago Corbisier Matheus.
3 – Dê o exemplo
De nada adianta deixar sua opinião clara se você não der o exemplo. Por isso, não fale, faça. “Não beba”, “ficar bêbado na frente dos filhos nunca”. Mesmo assim se optar por beber, mostre que você bebe apenas em ocasiões especiais. Além disso, jamais dirija sobre influência de álcool!
4 – Atenção às amizades
Conheça as regras e posturas nas casas dos amigos. Saiba o que acontece nos ambientes que seu filho frequenta e procure conversar com ele, sem brigar, sobre as diferenças entre as regras dos outros pais e as suas. Tenha a escola como aliada, caso enfrente algum problema.
5 – Seja um pai com autoridade e não autoritário
Quer saber qual é a diferença? André Brooking Negrão, psiquiatra, classifica a existência de quatro tipos de pais: – autoritários: que são disciplinadores, mas não têm muito contato afetivo; – permissivos: não impõem controle nem disciplina, mas são muito afetuosos; – negligentes: não impõem disciplina e também não são afetuosos; – com autoridade: são rigorosos na disciplina, mas também bastante afetuosos;
6 – Cumpra as leis do país
É importante que você mostre para seu filho a importância de viver de acordo com as leis do país. Por isso, denuncie estabelecimentos que vendem bebidas para menores de 18 anos e jamais mande seus filhos comprarem cigarro ou bebida por você.
Texto: Ligia Menezes
Fonte: Educar para Crescer