Donos do Mundo ?

O imperador romano Adriano, que reinou no século II, no apogeu de Roma, voltando de uma conquista, chamou os seus ministros e disse-lhes:

– Agora exijo que me considereis Deus.

Disse um deles:

– Quer o senhor, me ajudar nesta hora de necessidade?

– Em que? perguntou o imperador.

– Tenho um navio imobilizado a três milhas daqui, em alto mar, e nele está tudo o que possuo.

– Muito bem – disse o imperador -. Mandarei uma frota para socorrê-lo.

– Por que incomodar-se tanto? Mande simplesmente um sopro de vento.

– Mas onde arranjarei o vento?

– Se não sabe, como pode ser Deus, que criou o vento, e tudo o mais que existe no universo?

É muito comum entre os seres humanos aqueles que se julgam “donos do mundo”, ideia presente em todos os segmentos da sociedade. Na política, nos esportes, no trabalho, na família, nas religiões etc. São aqueles que se julgam os detentores da verdade subestimando as capacidades do seu próximo, considerando-se verdadeiros “deuses”.

Embora Jesus tenha dito: “Vós sois deuses, podeis fazer tudo o que eu faço e muito mais”, estamos ainda muito distantes de termos os atributos que proporcionem a realização de prodígios condizentes com o Cristo, pois o fazer a que Ele se referia estava intimamente ligado ao amor ao próximo; esta sim capacidade presente em todos os seres humanos.

No entanto não é isso que vemos nos nossos dias. Muitos se esquecem de que somos todos iguais, que dependemos uns dos outros e que pouca coisa existe que possa ser realizada na individualidade. No esporte alguém ganha uma competição sozinho? Alguém poderia responder: o maratonista, o tenista, o que pratica salto a distância e outros que competem de forma individual. Mas não têm os treinadores, os massagistas, os fisiologistas e outros que formam a equipe? O raciocínio aplica-se também na política, no trabalho, na família e nas religiões. Alguém é capaz de curar uma pessoa sozinha?  Embora muitos achem que sim, isso só ocorre por interferência da espiritualidade, respeitando a lei do merecimento.

O homem foi criado para viver em sociedade para poder progredir, porém o orgulho e o egoísmo são os grandes obstáculos ao seu progresso moral. Apegam-se exageradamente as coisas da matéria, que resulta em um desenvolvimento intelectual egoísta, fazendo com que se sintam superiores aos seus irmãos de jornada evolutiva. O egoísmo de uns incentiva o egoísmo de outros. Todos sentem a necessidade de se defenderem e só pensam em si mesmos pouco se importando com os outros.

Neste nosso caminhar, em busca da evolução vamos encontrar simpatias e antipatias e teremos até alguns inimigos. Isso é perfeitamente normal, porque até Jesus teve inimigos. Francisco de Assis, Gandy, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce e Chico Xavier também tiveram opositores. O grande diferencial deles em relação à maioria é que em momento algum se julgaram melhores do que ninguém. Jamais, eles, foram inimigos de quem quer que seja; nem daqueles que os perseguiam.

Quando mudarmos esta mentalidade individualista, quando deixarmos de nos considerarmos os melhores, quando admitirmos que não somos capazes de produzir nem o vento, vamos olhar o nosso semelhante em condições de igualdade e respeitá-lo nas suas limitações, bem como não a invejar as suas qualidades, mas sim imitá-las.

Não vamos com certeza conseguir transformar água em vinho como fez Jesus, mas podemos mudar da água para o vinho se assim desejarmos. Afinal como dizia romancista Charles Dickens, “um homem nunca sabe aquilo que é capaz até que o tente fazer”.

 


Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.