Uma planta típica do nordeste pode mudar os rumos do tratamento da Esclerose Múltipla. Apesar de ser cedo para alardear uma revolução terapêutica, a descoberta feita por um grupo de pesquisadores brasileiros pode ser comemorada como uma das melhores notícias dos últimos anos para portadores da doença e seus familiares.
A grande sacada da pesquisa atende pelo nome de avelóz, uma plantinha conhecida tradicionalmente no Norte e Nordeste por seus poderes milagreiros e que de uns tempos pra cá começou a ganhar a atenção formal de cientistas. O estudo foi publicado na renomada publicação Biochemical Pharmacology e está sendo capitaneado pelos pesquisadores Prof. Dr. Rafael Cypriano Dutra e Prof. Dr. João Batista Calixto, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina, além do Dr. Luiz Francisco Pianowski, do laboratório Kyolab.
A pesquisa começou há dois anos e seus resultados são bem promissores. “Nós demonstramos que o euphol inibe significativamente o desenvolvimento da Esclerose Múltipla em camundongos quando administrado por via oral. Além disso, nós descobrimos que ele (o euphol) bloqueia seletivamente as células que induzem a doença. Conseqüentemente, os animais tratados com o euphol não apresentam os sinais clínicos da doença”, afirma o Dr. Rafael Cypriano. O tal do euphol vem de Euphorbia tirucalli nome científico da avelóz. Ele é o componente que, quando isolado, combate a doença.
A Esclerose Múltipla não tem cura e ninguém sabe ao certo o que causa o problema. Mas não há mistério sobre o mal que ela causa: a Esclerose Múltipla é uma doença cruel. A lista de sintomas mais comuns dá uma vaga noção disso: dificuldade de locomoção, perda de coordenação motora, tonturas, disfunções sexuais, distúrbios esfincterianos e fadiga. A crueldade ganha um aspecto ainda mais traumático quando aliada aos aspectos psicológicos da doença: cerca de 65% dos pacientes sofrem de déficit de atenção e perda de memória, quase sempre acompanhados de um sentimento de ansiedade e depressão. A Esclerose Múltipla atinge 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo. “A doença acomete, principalmente, indivíduos brancos, na faixa etária entre 20 e 40 anos e com forte predomínio sobre o sexo feminino”, diz o Dr. Rafael. No Brasil, há 15 casos para cada 100 mil habitantes. Em alguns países do Hemisfério Norte esse número sobe para 100 ocorrências a cada 100 mil pessoas.
Hoje em dia, uma pessoa com Esclerose Múltipla não gasta menos de 5 mil reais por mês para se tratar, o que “dificulta a adesão dos pacientes”, nas palavras do Dr. Rafael. Ou seja: pouca gente tem grana suficiente para se tratar decentemente. Quando perguntado se a descoberta pode tornar o tratamento mais acessível, o pesquisador prefere a cautela: “No momento da nossa pesquisa, nós não temos como estimar um valor comercial para o euphol”. A burocracia que separa a descoberta de um remédio em potencial e as prateleiras da farmácia costuma gerar um período de 10 ou até 15 anos de espera. Enquanto isso, aumenta a esperança de dias melhores para os pacientes que sofrem com o problema.
Fonte: Revista Galileu