Você pode até tentar fazer cócegas em si mesmo, mas não vai ter a menor graça, certo?
Porque será que não conseguimos nos fazer rir com nosso próprio toque?
Existem algumas sugestões científicas para a situação. Uma delas, feita por pesquisadores britânicos em 2006 e publicada na revista PLOS Biology, se refere ao fato de nossos cérebros estarem programados para sintonizar estímulos previstos, incluindo percepções táteis que resultam do nosso próprio movimento.
Segundo Randall Flanagan e Daniel Wolpert, nós podemos “prever” sensações autogeradas, e com isso evitar as consequências sensoriais esperadas de nossas ações. Ou seja, nós sabemos que estamos prestes a nos dar cócegas, então não vamos senti-las.
Esse mecanismo é fundamentalmente diferente do que os pesquisadores chamam de “processo pós-distintivo”, no qual a sua percepção de estimulação é alterada somente após o evento ser autogerado. A ideia aqui é que nosso corpo constantemente prevê o que está prestes a experienciar, para agir de acordo.
Mas porque nós sentimos cócegas, em primeiro lugar?
Segundo teorias, a cócega pode ter evoluído para melhorar a nossa percepção de sensações causadas externamente.
Isso, aliás, implica que cócegas não podem ser autoimpostas. Se você encostar no seu próprio corpo, ele é programado para ignorar isso. Por quê? Porque ele está muito mais ocupado se preparando para lidar com estímulos externos inesperados.
Ter uma sensação de cócegas também poderia ser a maneira do corpo de aprender a se proteger durante encontros hostis, que são frequentemente de natureza interpessoal. Muitas das regiões mais delicadas do corpo, como o pescoço e as costelas, são as mais suscetíveis a lesões durante combates, por exemplo.
Também existem duas grandes hipóteses para a sensação das cócegas. A primeira é a “interpessoal”, que afirma que cócegas é um ato fundamentalmente interpessoal e, portanto, exige que outra pessoa seja a fonte do toque, e a segunda é a hipótese do “reflexo”, que sugere que o único pré-requisito para uma resposta de cócega é um elemento de surpresa.
Apesar de existirem muitas evidências que apoiam a explicação interpessoal – pois a maioria das cócegas do nosso dia-a-dia é resultado de um contexto social para o riso, uma forma de comunicação ou parte de um jogo social -, a hipótese do reflexo é bem mais provável, porque nós também podemos sentir cócegas a partir do toque de animais e objetos inanimados, como galhos de árvores e até máquinas, como provou um estudo da psicóloga Christine Harris, da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA).
Considere, por exemplo, a sensação que você experimenta quando uma aranha rasteja pelo seu pescoço. Ela não é uma pessoa, seu toque provavelmente não vai lhe dar ataques de riso, e também não aumentará o seu vínculo social com o bicho asqueroso. Aqui, não cabe a hipótese interpessoal, mas as cócegas estão lá do mesmo jeito.
Tal exemplo, além de confirmar a balança a favor da hipótese do reflexo, também chama a atenção para a diferença entre as “cócegas”: existe aquela sensação chata e leve, e um outro toque mais dramático, que induz ao riso ou gargalhada.
A distinção entre os dois já existe desde 1897, quando os psicólogos G. Stanley Hall e Arthur Allin sugeriram que a sensação mais suave deveria ser referida como “knismesis”, enquanto a mais intensa deveria ser chamada de “gargalesis”. A primeira tem sido comparada a uma “coceira de movimento”, e pode realmente ser autoinduzida (como quando você passa a língua pelo fundo do céu da boca), enquanto a segunda, é claro, não pode.
Fonte: Hypescience