Uma fábula escrita por Monteiro Lobato diz que dois burros, um com uma carga de açúcar, outro com uma carga de esponjas, caminhavam.
Dizia o primeiro:
– Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.
O outro redarguiu:
– Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.
– Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar o outro.
– Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.
– Nem sempre é assim, nem sempre é assim… Continuou a filosofar o primeiro.
Nisso alcançaram um rio, cuja ponte caíra na véspera.
– E agora?
– Agora é passar a vau. (trecho raso do rio onde pode se transitar a pé ou a cavalo)
O burro de açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga ia se dissolvendo ao contato com a água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.
O burro da esponja, fiel às suas ideias, pensou consigo:
– Se ele passou, passarei também – e lançou-se ao rio.
Mas sua carga, em vez de evair-se, como a do primeiro , cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.
– Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar – comentou o outro.
O ser humano tem como tendência fazer as coisas por imitação. Assim sendo, nem sempre escolhem como modelo aquilo que pode lhe proporcionar o melhor, embora o façam pensando que sim. Tomada uma decisão, pode ela ter consequências boas ou desagradáveis, nos levar a conquistas de valores que nos enobrecem ou a comprometimentos que acarretarão dissabores do ponto de vista material e espiritual.
Ao longo dos tempos vários foram os mitos em que muitos se espelharam. Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, Pelé, Maradona, Madona, Xuxa e tantos outros, de indiscutível talento na- quilo que faziam ou que fazem, mas cujos exemplos de vida nem sempre condizem com as verdadeiras e reais necessidades das criaturas humanas.
Sem termos a pretensão de ditarmos normas e conduta, tampouco julgarmos o comportamento alheio e, muito menos dizer, o que é certo ou errado, não precisamos pensar muito para chegarmos à conclusão de que muitos dos nossos jovens e até mesmos adultos são influenciáveis, e que vivem hoje momentos difíceis em virtude de não terem tido o discernimento necessário para escolherem entre o que é passageiro e o que duradouro.
Muitas vezes ao chegarmos a essa conclusão o nosso “burro” já afundou ou já estamos com uma dificuldade enorme para sairmos do buraco que nós mesmos cavamos. Para não chegarmos a este ponto, temos recursos em nós mesmos a serem usados, que são os atributos do espírito imortal que somos; pensamento e vontade.
No Livro dos Espíritos questão 625, obra básica da Codificação Espírita, Allan Kardec perguntou aos Espíritos superiores:
– Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo? E os Espíritos responderam:
– Vede Jesus.
“Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra”.
Paulo de Tarso disse tudo me é lícito, mas nem tudo me convém. Ou seja: Podemos fazer de tudo, mas nem tudo nos é bom. Podemos até imitar, mas precisamos saber o que convém imitar.
Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.