Um dia um homem que acreditava na vida após a morte, e que valorizava mais o ser do que o ter hospedou-se na casa de um materialista convicto.
Depois da ceia, o anfitrião convidou o hóspede para visitar a sua galeria de artes e começou a enaltecer os bens materiais que possuía, de maneira soberba. Falou que o homem vale pelo que possui, pelo patrimônio que consegue acumular durante a sua vida na Terra. Exibiu escritura de propriedades as mais variadas, joias, títulos e valores diversos.
Depois de ouvir tudo e observar calmamente, o hóspede falou da sua convicção de que os bens da Terra não nos pertencem de fato, e que mais cedo ou mais tarde teremos que deixá-los. Argumentou que os verdadeiros valores são as conquistas intelectuais e morais e não as posses terrenas, sempre passageiras.
No entanto, o materialista falou com arrogância que era o verdadeiro dono de tudo aquilo e que não havia ninguém no mundo capaz de provar que todos aqueles bens não lhe pertenciam.
Diante de tanta teimosia, o hóspede propôs-lhe um acordo:
– Já que é assim, voltaremos a falar do assunto daqui a cinquenta anos. Está bem?
– Ora, disse o dono da casa, daqui a cinquenta anos nós já estaremos mortos, pois ambos já temos mais de sessenta e cinco anos de idade!
– O hóspede respondeu prontamente:
– É por isso mesmo que poderemos discutir o assunto com mais segurança, pois só então você entenderá que tudo isso passou pelas suas mãos, mas na verdade, nada disso lhe pertence de fato. Chegará um dia em que você terá que deixar todas as posses materiais e partir, levando consigo somente suas verdadeiras conquistas, que são as virtudes do espírito imortal. E só então você poderá avaliar se é verdadeiramente rico ou não.
“Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens. Tanto eles não constituem propriedade individual do homem, que Deus frequentemente anula todas as previsões e a riqueza foge àquele que se julga com os melhores títulos para possuí-la. Direis, porventura, que isso se compreende no tocante aos bens hereditários, porém, não relativamente aos que são adquiridos pelo trabalho. Sem dúvida alguma, se há riquezas legitimas, são estas últimas, quando honestamente conseguidas, porquanto uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não resulta dano para ninguém”. (O Evangelho Segundo O Espiritismo)
Lembrar de que somos espíritos em evolução nunca é demais, mesmo porque, embora acreditemos que somos imortais, nos comportamos na maioria das vezes como se fôssemos simples mortais. Não podemos esquecer que aqui estamos de passagem e que o passaporte para o retorno já está carimbado, faltando apenas a data. Mais cedo ou mais tarde, faremos essa viagem de retorno e só vamos levar na bagagem as virtudes adquiridas, pois, os espíritos nos ensinam que “os homens semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual: os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza”.
Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.