Rosh Hashaná – Judeus celebram a chegada do Ano-Novo

Momento de introspecção e reflexão sobre o ano que passou e o que chega. Assim é encarado o Tishrei, primeiro mês do ano de acordo com o calendário judaico. A partir do entardecer de hoje até terça-feira, as famílias judias celebram o Rosh Hashaná, ou seja, o início do ano 5.773.

Nesta data, as sinagogas, serão palco das orações no considerado dia do julgamento. Apesar de ser uma festividade, o Ano-Novo judaico é um momento sério, explica o rabino Yosef Tawil, 50 anos. “Neste dia lembramos de forma especial o quanto Deus é bom conosco e pedimos que tenha piedade de nós, nos abençoando e permitindo um ano com saúde e prosperidade”.

Para os judeus, o Ano-Novo é comemorado no sexto dia após a criação do mundo segundo a bíblia, quando Deus criou Adão e Eva. “O homem foi a principal criação, porque sua finalidade é fazer um mundo melhor”, destaca Tawil. Dessa forma, o rabino esclarece que apesar de ser julgado pelo juiz do universo, acredita-se que o propósito de Deus não é castigar ou punir e sim querer que seus discípulos sigam seus mandamentos.

A cerimônia das sinagogas é marcada pelo toque do shofar – instrumento feito de chifre de carneiro e que representa o momento em que Abraão vai sacrificar seu filho, Isaac, para demonstrar a sua fé. Nesse momento, a leitura da Torá e a oração auxiliam a comunidade a refletir e a compreender os ensinamentos divinos.

Os judeus acreditam que a prece é um mandamento de Deus, seja para busca de ajuda ou em gratidão nos tempos de bem-estar.

Todo o mês de elul – que antecede o de tishrei – é marcado pela retrospecção e arrependimento, segundo o rabino. Já os dez primeiros dias do Ano-Novo são de penitência para os judeus. Esse ciclo é finalizado com o Yom Kipur, comemorado dez dias depois do Ano-Novo – entre 7 e 8 de outubro -, momento em que Deus sela o destino de todos. Os judeus acreditam que neste dia recebem o perdão e, por isso, jejuam.

Jantar

Depois da sinagoga, as famílias se reúnem em suas casas para o jantar com comidas especiais. No cardápio, o principal item é a maçã regada com mel, que simboliza o pedido para que todos tenham um ano doce e bom. “O ano pode ser bom, mas amargo, por isso, prezamos pelo doce”, observa o rabino Tawil.

Não pode faltar ainda o vinho, o chalot – pão redondo que simboliza a continuidade e eternidade -, além de frutas, carne, alho poró, tâmaras, acelga, abóbora moranga e cenoura, feijão roxinho, romã, cabeça de peixe e de carneiro.

Estão banidos da cerimônia alimentos amargos, como raíz forte, ou que possam atrapalhar na oração, como é o caso da noz. Além de provocar pigarro, essa palavra tem valor numérico que corresponde ao da palavra pecado.

Em relação à vestimenta, não há regra, mas a maior parte das pessoas prefere usar roupa branca, segundo o rabino.

Normalmente, o rabino ceia com aqueles que não tem família ou que estão longe de seus parentes na própria sinagoga.

Comemoração pede união familiar, além de reflexão e perdão

A família é algo de extrema importância no judaísmo e, por isso, o Ano-Novo é celebrado em união entre os entes queridos, explica a dona de casa Rebeca Blumen Schwartz, 70 anos.

Casada com judeu e com dois filhos que também seguem a tradição, ela revela que a preparação psicológica para a festa começou há uma semana. “Estamos cientes de que neste dia somos julgados por Deus, por isso, olhamos para dentro, observamos o que fizemos e planejamos fazer o bem.”

Para as matriarcas, a preparação da ceia provavelmente será feita na manhã de hoje neste ano, tendo em vista o descanso de sábado, que deve ser preservado. “Vou fazer o jantar no domingo (hoje) de manhã e deixar tudo pronto para ir à sinagoga”, diz a moradora de Santo André há 55 anos.

Na cultura judaica está intrínseca, ainda, a tarefa de fazer o bem, explica Rebeca. “Nos reunimos em comunidade para visitar doentes, auxiliamos grupos beneficentes, além de rezar diariamente”, destaca.

 

O que é o Rosh Hashaná.

Muitos conhecem o Rosh Hashaná como a festividade em que os judeus celebram a chegada de um novo ano. Entretanto, apesar de correta, essa noção não abarca os sentidos que essa festividade desenvolve para os integrantes da religião judaica. Além da passagem do tempo, o Rosh Hashaná também celebra o ano do julgamento, o dia da lembrança e o toque do shofar. Em geral, os judeus buscam o perdão de seus pecados e a renovação de suas almas por meio da passagem do tempo.

Ao contrário do que muitos imaginam, a celebração dessa festa não acontece no exato mês do calendário judaico em que o ano se reinicia. Na verdade, o Rosh Hoshaná, por conta de sua dimensão simbólica, é comemorado no primeiro dia do Tishrei, o sétimo mês do calendário. Nesse tempo, o sentido de renovação entre os judeus não se limita a reconhecer e refutar os antigos pecados. No Rosh Hoshaná o judeu desenvolve o seu livre arbítrio ao realizar as escolhas que podem transformar o seu proceder.

A realização dessas escolhas pessoais abre um vasto campo de dilemas que podem determinar a escrita do nome do seguidor do judaísmo no chamado “Livro da Vida”. Não por acaso, ao longo dessa festividade, os judeus cumprimentam uns aos outros realizando votos de que o seu próximo ano tenha seu nome escrito e selado nesse livro de dimensão simbólica. Paralelamente, os judeus aproveitam a data para relembrar o sacrifício de Abraão e a importância de se subjugar os desígnios divinos.

Entre os ritos desenvolvidos nessa ocasião, o toque do shofar é o que melhor abraça as diferentes dimensões desse momento festivo. Sendo um instrumento em forma de chifre de carneiro, o shofar relembra o animal que foi posto no lugar do primogênito de Abrão para a realização de uma oferenda a Deus. Além disso, tem a importância de relembrar que Deus é aquele que reina entre os homens. O entoar de seu som seria a mensagem que desperta a alma dos judeus para essas importantes questões de fé.

Reunidos em uma sinagoga, os judeus utilizam orações especiais que diferem a celebração do Rosh Hoshaná dos outros dias de reunião. O toque do shofar é realizado durante a realização dessas orações. Outro costume desenvolvido durante as orações é o Tashlich, que consiste no lançamento de migalhas de pão na água enquanto algumas orações são feitas. Os pedaços do pão simbolizam o abandono dos pecados cometidos pelo fiel.

As velas acesas e o pão consumido durante a celebração também se diferem dos rituais corriqueiramente organizados na sinagoga judaica. Os alimentos preparados nessa ocasião são geralmente doces. Tal prática estabelece o alcance de um ano que possa ser tão “saboroso” quanto esses alimentos oferecidos. Em algumas tradições judaicas, frutas são embaladas para que os participantes as comam sem saber qual é. Tal hábito reforça as surpresas que o novo ano reserva.

Fonte: Diário do Grande ABC – Brasil Escola por Rainer Sousa – Mestre em História