Cientistas americanos apresentaram nesta quinta-feira placas eletrônicas ultrafinas que se dissolvem naturalmente e que podem ter importantes implicações tecnológicas e médicas – justamente porque se dissolvem na água ou mesmo dentro do corpo humano.
Segundo seus criadores, em pesquisa publicada no periódico Science, o aparelho – chamado de “eletrônico transitório” – se autoextingue assim que perde sua utilidade.
Ele é feito com uma mistura microscópica de seda, magnésio e silício, que se dissolve sem causar danos ao entrar em contato com a água.
A novidade já foi usada para proteger uma ferida e mantê-la livre de infecções. Os pesquisadores dizem que a tecnologia pode servir para implantes médicos, monitoramento de órgãos vitais e para a aplicação de medicamentos.
No campo dos aparelhos eletrônicos, pode servir, futuramente, para criar, por exemplo, celulares que se dissolvam após o uso, de forma a evitar que esses aparelhos passem anos contaminando aterros sanitários e lixões.
Transitórios
O segmento de “eletrônicos transitórios” se baseia na ideia de dissolução controlada e já desenvolveu o que é chamado de “tatuagens eletrônicas”: sensores que dobram e se esticam com a pele. A ideia por trás desse segmento é exatamente oposta à do setor eletrônico tradicional, focado em criar produtos duráveis.
O silício, tão usado nesses produtos, é solúvel. A dificuldade é que o tamanho dos componentes eletrônicos tradicionais faz com que a dissolução demore muito. Assim, as novas tecnologias usam uma finíssima placa de silício, chamada nanomembrana, que se desintegra em questão de dias ou semanas.
A velocidade da dissolução é controlada pela seda: o material é coletado de bichos-da-seda, dissolvido e depois reconstituído. Ao alterar a forma como a seda dissolvida se cristaliza, mudam-se suas propriedades finais, bem como sua durabilidade.
“Eletrônicos transitórios oferecem um bom desempenho e são totalmente reabsorvidos pelo meio ambiente em um determinado período de tempo, que varia de minutos a semanas”, explica Fiorenzo Omenetto, professor da Escola de Engenharia da Universidade Tufts (EUA).
Uso médico
Diversos aparelhos já foram testados em laboratórios, incluindo uma câmera digital de 64 pixels, sensores de temperatura e células solares.
“É um novo conceito, que abre várias oportunidades”, diz à BBC John Rogers, cientista mecânico e professor da Universidade de Illinois, responsável pelo estudo na Science. “Provavelmente sequer identificamos muitas delas.”
Um campo promissor, diz ele, é o de curativos pós-cirurgias: um aparelho cujo objetivo é evitar infecções pode ser colocado no corpo ainda no centro cirúrgico. Esse aparelho só seria útil durante o período mais crítico – por exemplo, duas semanas após a cirurgia – e depois disso poderia ser dissolvido.
Além disso, pesquisadores já testaram em ratos um aparelho que “esquenta” uma ferida, para impedir a proliferação de germes.
Também planeja-se o uso dessa tecnologia para injetar doses de medicamentos no corpo ou para construir sensores cerebrais e cardíacos.
Fonte: IG