O Brasil e outros 26 países se uniram para construir um super observatório de raios gama -a radiação mais poderosa já conhecida. Ela está intimamente ligada a alguns dos mais misteriosos e violentos eventos do Universo e, por isso, seu estudo é considerado estratégico.
Batizado de CTA (Cherenkov Telescope Array), o futuro observatório tem o objetivo pouco modesto de investigar as engrenagens de fenômenos como a matéria escura e os buracos negros.
Os temas a serem estudados, considerados “quentes” na astronomia e na astrofísica, têm potencial para turbinar a participação brasileira em artigos internacionais.
O plano final do CTA é ter dois centros em operação: um em cada hemisfério. A instalação da parte sul do conjunto é a prioridade.
Em vez de um grande e único telescópio, o observatório terá por volta de cem dispositivos menores, espalhados em uma área de quase 10 km².
“Esse arranjo dá muita flexibilidade para as observações. É possível voltar todos os telescópios para um único ponto e obter informações detalhadas ou, simplesmente, conseguir uma espécie de panorama do céu”, diz Vitor de Souza Filho, astrônomo do Instituto de Física da USP de São Carlos e chefe da participação brasileira.
Ao colidirem com as camadas mais altas da atmosfera, os raios gama provocam uma espécie de “chuva” que pode ser captada pelos telescópios.
A partir do estudo dessas partículas, os cientistas conseguirão fazer o caminho inverso e descobrir informações sobre a luz original.
“Não estamos buscando um resultado específico. O objetivo é fazer ciência básica, abrir uma nova porta de investigações. A curiosidade humana nunca decepcionou”, diz Souza Filho.
‘OPEN SOURCE’
Ao contrário de outros centros, em que os dados coletados ficam restritos ao pesquisador que os solicitou, no CTA as verificações estarão abertas a todos os membros.
“Mais grupos de pesquisa vão ter acesso a isso, e mais material vai ser produzido. A coisa vai ser bem ‘colaborativa’ “, diz o astrônomo.
O local de construção ainda não foi definido. Dois países estão na briga: Argentina e Namíbia. As duas nações têm regiões com clima seco que facilita a observação. A escolha será feita no ano que vem. O início das operações está previsto para 2015.
Se os “hermanos” forem escolhidos, o Brasil será a opção natural para o fornecimento de equipamentos. Segundo a equipe brasileira, empresas nacionais já conseguem viabilizar a maioria dos componentes envolvidos.
O financiamento no país é feito em conjunto pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
COLABORAÇÕES
Com limitações financeiras e climáticas para ter centros astronômicos só seus, o Brasil investe em colaborações nos grandes projetos internacionais.
O país assinou acordo para se tornar o primeiro membro não europeu do ESO (Observatório Europeu do Sul), que tem os maiores telescópios ópticos de solo do mundo.
Outro grande projeto é o DES (Dark Energy Survey), que desenvolveu a câmera digital mais poderosa do mundo para estudar a energia escura.
O país também tem uma colaboração com a Espanha, o Observatório Astronômico de Javalambre, em obras, para investigar a matéria escura.
Fonte: Folha