Há dois anos, um megaterremoto de 9.1 magnitudes sacudiu a costa do Japão provocando um dos maiores tsunamis da História. O abalo foi tão intenso que os infrassons gerados se propagaram tão alto que até um satélite de sensoriamento remoto praticamente flutuou ao som das ondas sísmicas.
A revelação do fenômeno foi publicada esta semana no periódico especializado Geophysical Research Letters tendo como base os dados registrados pelo satélite europeu GOCE, que mede as tênues variações do campo gravitacional da Terra.
Para realizar o seu trabalho, o GOCE precisa manter a órbita e altitude altamente estáveis através de diversos sistemas que compensação, de modo que apenas as variações do campo gravitacional sejam registradas. No entanto, no dia 11 de março o satélite registrou duas anomalias muito acentuadas e que só agora foram explicadas pelos cientistas da Agência Espacial Europeia, ESA.
De acordo com os pesquisadores, a primeira anomalia foi detectada sobre o oceano Pacífico 30 minutos após o terremoto e a segunda cerca de uma hora depois, quando o GOCE estava sobre a Europa. Segundo os cientistas, as ondas acústicas se propagaram até 270 km de altitude, onde orbita o satélite GOCE e fizeram a densidade do ar variar abruptamente naquela região.
Como consequência, o satélite acompanhou essas variações subindo e descendo cerca de 20 km por mais de 2 horas, ao mesmo tempo em que os mecanismos de compensação tentavam manter o satélite na altitude nominal.
Essa foi a primeira vez que um satélite consegue registrar infrassons e pode sinalizar o desenvolvimento de uma nova ferramenta de análises para os sismologistas.
“Os sismologistas estão muito interessados nessa descoberta, pois até agora eles não tinham qualquer instrumento espacial similar aqueles existentes em solo”, disse o físico e autor do estudo Raphael Garcia, ligado ao Research Institute in Astrophysics and Planetology, na França.
Infrassons
Os infrassons são ondas acústicas de frequência muito baixa, inferiores a 1 Hz (1 hertz) , produzidas por terremotos, explosões atômicas e até mesmo pelas ondas de choque geradas durante entrada meteoros na atmosfera. Elas não podem ser ouvidas pelos seres humanos, que ouvem entre 15 Hz e 15 mil Hz, mas são percebidas por elefantes ou golfinhos.
Em solo, existem centenas de sensores capazes de ouvir esses sons e triangular a fonte geradora, assim como a energia que a gerou. A análise desses dados é que permite aos governos o monitoramento do cumprimento do tratado de não realização de testes nucleares. Recentemente, os registros de infrassons foram usados também para calcular a energia do meteorito que caiu na cidade russa de Chelyabinsk, em fevereiro de 2013.
Com a descoberta, novos instrumentos poderão ser desenvolvidos especificamente com essa finalidade e então embarcados em satélites de baixa altitude. Isso permitirá aumentar capacidade de detecção e acompanhamento de eventos acústicos de grande energia e também fornecer pistas sobre o comportamento de algumas espécies de animais diante desses eventos.
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