Em expedição feita em parceria com o Japão, geólogos brasileiros encontraram a presença de granito em uma formação rochosa conhecida como Elevado Rio Grande, uma cordilheira submersa a mais de mil quilômetros da costa brasileira.
Antes, especulava-se que a formação poderia ser de rochas vulcânicas, as mais comuns no fundo do oceano.
A presença de granito nas rochas comprovaria a tese de que parte desse elevado –uma área equivalente à metade do Estado de São Paulo– é a continuidade da plataforma continental brasileira, que teria caído no fundo do oceano na época da separação do continente sul-americano da África, há cerca de 130 milhões de anos.
A pesquisa, divulgada ontem, faz parte de uma campanha iniciada em janeiro pelo navio japonês Yokosuka, que hospeda o submersível Shinkai 6500, equipamento de alta tecnologia que tornou possível o estudo das rochas.
A expedição é fruto de uma parceria entre a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), a Jamstec (Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar) e a USP.
Patrocinado pela Jamstec, o Shinkai 6500 viajará por um ano pelo mundo investigando formações como a brasileira, um projeto estimado em US$ 10 milhões.
“A ida do Shinkai à região fortaleceu o que antes era hipótese. Granito não é uma rocha vulcânica, é um pedaço do continente que foi deixado para trás”, disse o diretor da CPRM, Roberto Ventura, dando como exemplo de granito o Pão de Açúcar, um dos cartões postais do Rio.
MERGULHOS
O geólogo da CPRM Eugênio Pires Frasão, um dos seis brasileiros que participaram da expedição, passou cerca de oito horas por dia submerso fazendo a pesquisa.
De 30 de abril a 2 de maio, foram sete mergulhos para coletar amostras.
Mas, para comprovar a tese, a CPRM terá ainda que fazer perfurações no local, o que está previsto para ocorrer ainda neste ano.
Entre agosto e setembro, será lançada uma licitação para contratar uma empresa de perfuração no local.
Para a professora da USP Naomi Ussami, que estuda a formação da Elevado Rio Grande, a descoberta, se comprovada, vai mudar a história do Atlântico Sul, além de resolver um debate que se arrasta há anos sobre a extensão da plataforma continental brasileira.
“Se for pedaço da crosta continental, é um pedaço de Brasil, e aí passa a ser área exclusiva de exploração pelo país”, disse.
O navio custou US$ 100 milhões ao governo japonês e o Shinkai 6.500, US$ 130 milhões, investimentos que, segundo pesquisadores brasileiros, estão além das possibilidades do Brasil.
Sem esses equipamentos, o país levaria anos para confirmar as suspeitas de que uma parte do continente se desprendeu na separação do Brasil e da África. Nos últimos quatro anos, o Brasil investiu R$ 80 milhões em pesquisas na Elevado Rio Grande.
Fonte: Folha