Elefantes usam uma variedade de gestos e movimentos sutis para se comunicarem entre si, afirmam pesquisadores que estudaram os grandes mamíferos por décadas. Para o observador humano normal, um jeito de dobrar a tromba ou um passo para trás pode não significar nada, mas para cientistas como Joyce Poole estes sinais representam informação suficiente a ser passada para outros elefantes e até mesmo todo o grupo.
A bióloga Joyce Poole e seu marido Petter Granli, do ElephantVoices, instituição que faz pesquisa e conservação dos elefantes em santuários da África, desenvolveram um banco de dados online que decodifica centenas de gestos e sinais. Os pesquisadores afirmam que as posturas e os movimentos enfatizam a sofisticação da comunicação dos elefantes. A dupla ainda decifrou o significado da comunicação acústica entre os elefantes, ao interpretarem os gritos, berros, ruídos e outros sons que os animais fazem junto com determinadas posturas, como o posicionamento e o bater das orelhas.
Poole estuda elefantes na África há mais de 35 anos, mas só começou a fazer o banco de dados sobre gestos na década passada. Alguns de suas pesquisas e trabalhos em conservação foram patrocinados pela National Geographic Society.
“Eu notei isto enquanto eu acompanhava visitantes no Amboseli (Parque Nacional do Quênia) e narrava os comportamentos dos animais. Eu era capaz de acertar em 90% das vezes a previsão sobre o que os elefantes iam fazer”, disse Joyce. “Se eles paravam de uma certa maneira, era sinal de que estavam com medo e iam se refugiar , ou se estavam de outra maneira , era porque que estavam bravos e iam se mover em direção a outro elefante e ameaça-lo”.
Ao longo de milhares de horas de observação, Joyce conseguiu compreender e traduzir o que os elefantes estavam comunicando. Ela também foi a primeira a descobrir que elefantes machos tem um período, chamado musth, em que se tornam altamente agressivos por causa da alta de testosterona. Gestos típicos deste período foram catalogados no banco de dados como “orelha-onda”, “tromba-arrastando”, “cabeceada”, e o “pé-de-musth”, um jeito pomposo de andar.
Joyce e Granli iniciaram, então, o processo de caracterização dos gestos e posturas que eles viam. Eles criaram nove categorias para o banco de dados: atenção, agressividade, ambivalência, defensiva, integração social, mãe-prole, sexual, reprodução e morte (já que elefantes apresentam comportamento fúnebre em torno de companheiros mortos).
“Elefantes podem ser muito dramáticos e expressivos, ou incrivelmente sutis e não óbvios. Isto depende de como está indo a dinâmica do grupo”, disse Joyce.
Acasalamento-pandemônio
Alguns dos comportamentos mais dramáticos são os que estão na categoria sexual, quando os animais estão se exibindo. Para estes gestos, os pesquisadores deram o nome de acasalamento-pandemônio.
“As fêmeas investem para acasalar e a exibição conta com agitação de orelhas, estrondos, um barulhão danado – a família inteira acompanha o processo”, disse Joyce. “Então ela passa por cima e aspira o pênis e o sêmen do macho. Ela pega inclusive o sêmen que cai no chão com a tromba e respinga-se fazendo sempre muito barulho. Esta é a parte dramática que em alguns casos também serve para chamar a atenção e atrair outros machos mais distantes”, disse.
Há também os gestos sutis como a “postura congelada”, que esta na categoria de atenção. Os elefantes geralmente usam esta postura para detectar possíveis ameaças. Eles emitem um barulho em uma frequência muito baixa, que humanos não podem escutar. Ao identificar estes sinais sonoros a quilômetros de distância, os elefantes permanecem completamente parados, como que congelados.
“Um único elefante precisa se manter parado na parte de trás do grupo para que em seguida, todo o grupo entenda o som que humanos não conseguem ouvir”, disse Joyce. Elefantes foram observados reagindo ao som de outros elefantes, assim como de carros, zebras a quilômetros de distância, terremotos e trovoes. Reagir adequadamente a estes sons é importante para a sua sobrevivência.
Senso de humor
Joyce também lembra como animais brincalhões fingiam atacar seu carro, aparentando tropeçar e cair no chão, enquanto mexiam na terra com suas presas. “Eu achava que eles realmente tropeçavam, mas agora sei que não é mais assim,” conta. “Já vi isso acontecer tantas vezes que sei que fingir cair na frente do veículo é parte de uma brincadeira. É um dos comportamentos que me fazem dizer que os elefantes têm consciências individuais e senso de humor. Eles sabem que são engraçados”.
Fonte: IG