Um conto interessante – Valentim Fernandes

Conta-se que o Rei da Macedônia, Alexandre o Grande, depois de inumeráveis conquistas bélicas, se sentia amado por poucos, temido e odiado por muitos. Ainda jovem, acordou certa manhã melancólico, pressentindo muito próxima a sua morte. E desencantado com a impotência do mundo diante do imponderável, chamou seus generais e passou-lhes instruções de como deveria ser o seu funeral, ditando-lhes seus últimos três desejos:

1. Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época.

2. Que fossem espalhados no caminho até seu túmulo, os seus tesouros conquistados, como prata, ouro, e pedras preciosas.

3. Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.

Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões desses pedidos e ele explicou:

1. Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles não têm o poder de cura perante a morte.

2. Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem.

3. Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos.

Verdadeiro, ou criado por alguém, é interessante porque expressa a mais pura realidade. Quando detemos o poder, muitas vezes nos esquecemos que ele é temporário, e que embora nos dê status e glamour, não nos garante o amor e o respeito daqueles que conosco convivem. Os consultórios de psicólogos e psquiatras estão abarrotados de gente “poderosa”, mas extremamente infeliz.

Quando o homem perceber que é um ser espiritual, vivendo, provisoriamente, na matéria, e que continuará o exercício da vida na espiritualidade, após a morte desse corpo; quando perceber que o viver tem um sentido definido de aprendizado e desenvolvimento contínuos; quando raciocinar em torno das consequências desagradáveis, em função dos excessos dos prazeres terrenos de toda espécie, ele buscará dominar-se, passando a perceber, também, a necessidade de usar esses bens, sem excesso, considerando-os apenas como instrumentos do seu desenvolvimento espiritual. Assim sendo, ao invés de temido e odiado por muitos, será respeitado e amado por todos, ou quase todos, e consequentemente feliz.

Por outro lado, existem aqueles que demonstram para a sociedade qualidades que apenas estão mascaradas pelo verniz social. São gentis, simpáticos, benevolentes, etc, apenas por interesses ou medo. Não expressam o que realmente são.

“A essa classe também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa, se impõe a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os estranhos, que os chamariam à ordem, acham que, pelo menos, devem fazer-se temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer”: “Aqui mando e sou obedecido”, sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: “E sou detestado.”

“Não basta que os lábios destilem leite e mel, pois se o coração nada tem com isso, trata-se de hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas, jamais se desmente. É o mesmo para o mundo ou na intimidade, e sabem que se podem enganar os homens pelas aparências, não podem enganar a Deus”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo)

Usar de tudo que o mundo nos oferece com equilíbrio é o nosso grande desafio. Se detentores do poder, que este seja usado de forma a não nos comprometer espiritualmente. Se subordinado a ele, que este não seja pedra de tropeço para evolução do espírito imortal que somos. Seja onde for que estivermos, é o nosso comportamento que determina o que realmente somos!

 

Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.