Pode não parecer verdade, mas vínculos emocionais em animais como os primatas podem ter evoluído no que nós humanos conhecemos como amor.
Um exemplo disso são os macacos da noite que vivem em árvores tropicais e tratam todo dia como se fosse Dia dos Namorados. Um macho e uma fêmea ficam juntos até o final de suas vidas, nunca traem e nunca se divorciam de seus companheiros – um comportamento extremamente incomum, mesmo entre as pessoas.
Às vezes, no entanto, macacos jovens adultos que não conseguem encontrar companheiros – macacos que os cientistas chamam de flutuadores – engajam em brigas ferozes com parceiros estabelecidos, eventualmente fazendo com que um deles desista da relação.
Agora, uma nova pesquisa mostrou que os macacos que são forçados a assumir novos parceiros têm menos filhos do que os que não foram separados, disse Eduardo Fernandez-Duque, um antropólogo biólogo da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, que liderou um novo estudo sobre relações dos macacos da noite.
Os resultados mostram como a monogamia ajuda aos macacos da noite – e pode até mesmo demonstrar a maneira na qual as relações humanas evoluíram, disse Fernandez-Duque, que recebeu financiamento para seu trabalho do Comitê de Pesquisa e Exploração da National Geographic.
“Não importa do que o chamamos – há algo em nossa biologia que nos leva a ter este vínculo duradouro e emocional entre duas pessoas nas sociedades humanas”, disse Fernandez-Duque, em um comunicado.
Problemas no paraíso
Apenas cerca de 5% dos mamíferos são monogâmicos e este fenômeno na maioria das vezes ocorre quando ambos os pais precisam estar presentes para criar seus filhos, como no caso dos humanos.
No caso dos macacos da noite, os pais assumem a maior parte da infância de um bebê, contando com a mãe apenas para providenciar o leite.
Mas os flutuantes – que Fernandez-Duque e seus colegas notaram pela primeira vez em 2003, na região do Chaco da Argentina – podem significar problemas para a comunidade de macacos da noite.
Baseando-se em quase duas décadas de observações de 18 grupos de macacos da noite, a equipe descobriu que os pares que permanecem juntos dão cria em 25 % a mais do que macacos que têm sua relação terminada pelos flutuadores.
O animal exilado desses relacionamentos, no entanto, normalmente sai ferido da briga e muitas vezes morre.
Química do amor
Ainda não se sabe os motivos pelos quais os macacos que perdem seus pares têm menos filhos, embora Fernandez-Duque suspeite de que há um componente emocional.
Assim como um homem e uma mulher precisam de tempo para ficarem juntos para poderem se conhecer e formar uma ligação profunda, os macacos da noite também. Assim, quando um macaco que saiu de um relacionamento entra em um novo, há um atraso no acasalamento – geralmente de cerca de um ano, disse Fernandez-Duque.
Na verdade, a ligação dupla em animais monogâmicos, como no caso dos macacos, pode ser uma espécie de “antecedente evolutivo do amor dos humanos”, disse Larry Young, um neurocientista comportamental na Universidade de Emory, em Atlanta, e autor do novo livro “A Química Entre Nós: Amor, Sexo e a Ciência da Atração”.
Young, que estuda a química do amor e emoção no cérebro, faz a maior parte de sua pesquisa em ratazanas monógamas.
Embora o amor humano seja uma emoção de reflexos complexos de nossos cérebros, disse ele,”a fundação do que a emoção é, é muito semelhante aos neuro mecanismos presentes nas ratazanas.”
Por exemplo, as experiências têm mostrado que, se uma ratazana perde o seu parceiro, o animal que sofreu a perda mostra sintomas depressivos – medidos por uma falta de vontade de escapar de uma situação perigosa.
De acordo com Young, nossos cérebros foram programados para amar, por assim dizer:” Nossos órgãos têm evoluído seu mecanismo para produzir uma ligação emocional”, disse ele.
O apego é estimulado pela oxitocina – produzida durante o contato íntimo em pessoas e animais – e dopamina, que é responsável pela sensação de alegria e felicidade.
Então por mais incrível que seja o amor, disse ele, “também é o resultado de um coquetel de produtos químicos”.
O estudo sobre os macacos da noite foi publicado no dia 23 de janeiro na revista PLoS ONE.
Fonte: IG