Unesp testa eficácia e segurança de 20 plantas medicinais

Uma pesquisa em andamento na Universidade Estadual Paulista (Unesp) busca avaliar a segurança e a eficácia de extratos de 20 plantas medicinais no tratamento de doenças como úlcera, colite, doença inflamatória intestinal, dores crônicas, inflamação, câncer e diabetes.

Em uma primeira fase do trabalho, um Projeto Temático coordenado por Wagner Vilegas, foram extraídos os princípios ativos presentes nas espécies. As moléculas foram isoladas e tiveram sua estrutura caracterizada. Em seguida, foram feitos experimentos in vitro e em roedores para avaliar a ação terapêutica e possíveis efeitos adversos.

Com base nos experimentos, o grupo de pesquisadores selecionou extratos das seis espécies mais promissoras para uma investigação aprofundada.

A Serjania marginata e a Machaerium hirtum demonstraram ação gastroprotetora, analgésica e anti-inflamatória, sem efeito mutagênico ou tóxico. Já a Rhizophora mangle e a Hymenaea stigonocarpa mostraram potencial terapêutico para o tratamento de doença inflamatória intestinal. As espécies Myrcia bella e a Bauhinia holophylla apresentaram resultados experimentais promissores para tratamento do diabetes.

“Pretendemos investigar melhor os mecanismos de ação dos princípios ativos presentes nessas espécies. O interessante seria descobrir um mecanismo de ação diferente daqueles existentes nos medicamentos já comercializados”, explicou Vilegas, do campus da Unesp em São Vicente.

Listagem do SUS

O objetivo da pesquisa, de acordo com Vilegas, é ampliar as opções disponíveis na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus). Divulgada em 2009 pelo Ministério da Saúde, essa listagem traz 71 plantas com potencial para gerar produtos de interesse para a rede pública de saúde.

A finalidade da Renisus, segundo informações do ministério, é orientar estudos e pesquisas que subsidiem a relação de fitoterápicos disponíveis para uso da população. Atualmente, são oferecidos derivados de espinheira-santa, para gastrites e úlceras, e de guaco, para tosses e gripes.

“O problema é que algumas das espécies listadas pela Renisus ocorrem apenas em determinadas regiões do país e não há quantidade suficiente da planta para atender toda a população. É preciso incorporar novas opções terapêuticas a essa listagem, mas antes são necessários estudos para comprovar a eficácia e a seguranças dos fitoterápicos”, disse Vilegas.

Outro objetivo do projeto, conforme o pesquisador, é justamente estudar o efeito de plantas similares às existentes na listagem do SUS, como é o caso da pata-de-vaca (Bauhinia forficata).

“A B. forficata já é muito usada contra o diabetes. Nós estamos estudando uma espécie irmã, a B. holophylla, que apresentou resultados muito bons contra o diabetes em testes feitos in vitro e in vivo. Ela também é rica em flavonoides, que são substâncias antioxidantes”, contou Vilegas.

Outra planta famosa na medicina popular que mostrou bom desempenho no laboratório foi a jurubeba (Solanum paniculatum). Rica em alcaloides esteroidais, a espécie revelou nos experimentos efeito importante contra úlcera e outros tipos de inflamação.

Já a Terminalia catappa, popularmente conhecida como chapéu-de-sol, apresentou intensa atividade antimicrobiana e antiulcerativa – interessante para tratar doenças estomacais associadas à bactéria Helicobacter pylori. Os testes de segurança, no entanto, revelaram que as substâncias ativas presentes na planta podem induzir mutações nas células.

“Serão necessários mais estudos para descobrir se há meios de retirar as moléculas tóxicas do extrato e reduzir possíveis efeitos colaterais”, avaliou Vilegas.

Esse também é o caso da crotalária (Crotalaria pallida), que, apesar da potente ação imunomoduladora, apresentou alta toxicidade. “Essa espécie contém alcaloides pirrolizidínicos, tóxicos para o fígado. Foi por esse motivo, por exemplo, que o confrei ( Symphytum officinale) passou a ser contraindicado”, afirmou Vilegas.

Veja aqui qual será a próxima etapa do projeto.

Fonte: CicloVivo por Karina Toledo – Agência FAPESP