Homem “mora” há dois meses no aeroporto de Salvador.
O enredo parece com o do filme “O Terminal”, de 2004, estrelado pelo ator Tom Hanks, em que o personagem Viktor Navroski não consegue voltar para a fictícia Krakozhia e é obrigado a viver por nove meses no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova Iorque, Estados Unidos.
Há dois meses “morando” clandestinamente no Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, Gerson Ferreira da Silva, 46 anos, não esperava que sua primeira visita à capital baiana fosse lhe render tantos prejuízos.Iludido por uma falsa promessa de emprego, o homem que trabalhava em um loja de móveis em Campinas, no Estado de São Paulo, saiu de sua cidade à procura de melhores salários, mas se decepcionou ao ver que os seus planos foram frustrados por diversas mentiras. Diferente do que esperava, o paulista não encontrou loja, nem melhor remuneração, muito menos algo que lhe oferecesse perspectivas de um futuro melhor.Segundo Gerson Ferreira, a sua chegada à Salvador foi viabilizada por um caminhoneiro, que supostamente integrava a empresa em que trabalhava em Campinas. Juntos, eles atuariam em uma filial da loja de móveis, na capital baiana. Entretanto, ao chegar à cidade foi comunicado, por alguém que não soube identificar, que a loja não funcionaria por problemas relacionados ao alvará de funcionamento. Enquanto o trabalhador ainda tentava digerir a frustração dos planos, o suposto caminhoneiro informou que não retornaria para Campinas, obrigando-o a permancer na cidade.Desde então, o trabalhador paulista está no aeroporto de Salvador, onde dorme clandestinamente. Com a ajuda de alguns taxistas, consegue alimentos e dinheiro para revender água no próprio local. “Durmo até às 3h da manhã e, para não ser visto lá dentro, saio e sento neste banco. Há dois meses esta é a minha rotina”, comentou cabisbaixo. Os taxistas da região, que preferiram não ser identificados, confirmaram a história do trabalhador paulista.Gerson foi encontrado pela reportagem de A TARDE, na última segunda-feira, 9, quando a equipe de esportes cobria a chegada do São Paulo, equipe que jogou contra o Bahia de Feira, na cidade de Feira de Santana, na noite desta quarta-feira, pela Copa do Brasil.Ajuda – Sensibilizado pela história do trabalhador, o Coletivo de Entidades Negras (CEN), entidade não-governamental ligada a Organização Nacional do Movimento Negro, se ofereceu para comprar uma passagem aérea para Gerson.”Embora trabalhemos com políticas sociais de promoção e respeito, também atuamos na base, nos problemas diários enfrentados pela população negra no Brasil. A história deste homem é característica do sofrimento de muitos negros que, por falta de opção de emprego e educação, acabam saindo de suas cidades e sendo explorados e enganados em outras regiões”, retratou o coordenador do CEN na Bahia, Marcos Rezende.Segundo o coordenador da entidade, os representantes do CEN conversarão com o trabalhador, para descobrir a sua relação com a loja de materiais e, após o esclarecimento do caso, as passagens serão entregues. “Pretendemos resolver todas as pendências até o final desta semana. Dando tudo certo, ele já estará em Campinas na próxima semana”, completou Marcos Rezende.Agora, o trabalhador aguarda ansioso o momento em que poderá rever a mulher e os quatro filhos. “A minha maior vontade é voltar para casa”, emociona-se. Procurada pela equipe de reportagem, a Superintendência do Aeroporto de Salvador contou que, até a noite desta quinta-feira, 12, não foi informada sobre a presença de Gerson no local.
Fonte: Uol