A busca do bem estar – Valentim Fernandes

Conta-se que certo dia, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio. O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.

– Onde estão seus móveis? – perguntou o turista

E o sábio, bem depressa, perguntou também.

– E onde estão os seus…?

Os meus? – surpreendeu-se o turista. Mas eu estou aqui de passagem!

– Eu também… concluiu o sábio.

A vida na terra é somente uma passagem. No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e esquecem-se de serem felizes.

Em o Livro dos Espíritos, obra básica da codificação espírita, na questão 719, Allan Kardec indagou aos Espíritos Superiores:

– O homem é censurável por procurar o bem-estar?

— O bem-estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não considera um crime a procura do bem-estar, se este não for conquistado à custa de alguém e se não enfraquecer as vossas forças morais nem as vossas forças físicas.

Esta resposta nos possibilita fazer algumas reflexões a respeito deste assunto tão importante para a nossa evolução espiritual.

Primeiro, que Deus nos criou para que sejamos felizes. Por isso somos dotados do atributo da vontade de sempre buscar o que nos proporcione bem estar e conforto. Dotou-nos, também, da inteligência para a realização deste objetivo. Porém, como tudo tem um fim providencial e útil na Lei de Deus, esse desejo tem finalidades específicas em nossas vidas. Voltemos ao Livro dos Espíritos, na questão 712 e 712 –a.

– Com que fim Deus fez atrativos os gozos dos bens materiais?

– Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e também para o prová-lo na tentação.

712-a: Qual o objetivo dessa tentação?

–Desenvolver a razão que deve preservá-lo dos excessos.

Natural desfrutarmos dos bens da terra, desde que não esqueçamos os valores espirituais. Para que o planeta evolua é necessário que os seus habitantes esforcem-se, intelectualmente, e também fisicamente para encontrarem a melhor maneira de aproveitarem os inúmeros recursos que este oferece para que possam viver da melhor maneira possível. Nisto consiste a missão a qual os Espíritos se referiram na resposta acima citada.

Podemos dizer que temos todo o direito de ansiar por uma vida melhor, mais confortável, e de sermos felizes. Porém temos por dever, para conosco mesmos, de nos precaver contra as tentações que estes anseios desencadeiem nos esforçando no sentido de adquirirmos o equilíbrio necessário para utilizarmos com prudência, moderação, e caridade os recursos que o Senhor nos oferece para benefício de todos nós; afinal, como disse o sábio: aqui só estamos de passagem.

“Se o homem não fosse instigado ao uso dos bens da Terra senão em vista de sua utilidade, sua indiferença poderia ter comprometido a harmonia do Universo. Deus lhe dá o atrativo do prazer que o solicita a realização dos desígnios da Providência. Mas, por meio desse mesmo atrativo, Deus quis prová-lo também pela tentação, que o arrasta ao abuso, do qual a sua razão deve livrá-lo.” (Allan Kardec)

 

Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.