A missão Apollo 11 completa 45 anos de sua chegada à órbita da Lua neste domingo (20). O feito científico e tecnológico também foi um marco midiático. De acordo com a Nasa, agência espacial norte-americana, a “conquista da Lua” foi assistida por mais de 600 milhões de pessoas – proporção de uma em cada cinco no mundo – no dia 20 de julho de 1969.
O sucesso norte-americano é talvez o resultado mais lembrado de uma corrida espacial que trouxe uma série de impactos para a tecnologia atual. Atrás dos vários resultados positivos da Rússia, então chamada de União Soviética (URSS), os EUA queriam reverter o impacto das realizações da potência adversária, durante a Guerra Fria.
O objetivo da missão foi estabelecido cerca de oito anos antes, pelo então presidente dos EUA, John F. Kennedy: pousar uma tripulação humana na superfície de satélite e retornar para a Terra. O astrônomo Marcos Calil, coordenador científico do Planetário e Teatro Digital de Santo André, explica o cenário político e militar da corrida para a Lua.
— O fato é que a URSS sempre esteve à frente dos EUA. Ela colocou o primeiro satélite artificial em órbita; o primeiro animal no espaço; o primeiro objeto a alcançar a Lua; o primeiro homem no espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin, entre outros feitos de sucessos e insucessos. Não bastassem esses feitos, o programa Luna dos soviéticos, que competia diretamente com as missões destinadas para Lua dos americanos (pela ordem, Programa Mercury, Programa Gemini e Programa Apollo), apesar de alguns insucessos, obteve outros diversos sucessos de idas e vindas para a Lua.
O time enviado para o espaço no foguete Saturno V contava com três astronautas: o comandante da missão Neil Armstrong, o piloto do módulo lunar Edwin “Buzz” Aldrin e o piloto do módulo de comando Michael Collins. O trio tinha como objetivos secundários a exploração da superfície da Lua no módulo controlado por Aldrin, a configuração de uma câmera de TV para a transferência de imagens para a Terra, coleta de material lunar e realização de experimentos científicos.
A nave era dividida entre o módulo de comando Columbia, o módulo lunar Eagle e o módulo de serviço. A missão durou oito dias, enquanto a caminhada lunar de Armstrong e Aldrin durou cerca de duas horas e 45 minutos. Após a ida do trio para a Lua, apenas outras 11 pessoas estiveram no satélite natural da Terra. Todas elas em novas missões Apollo, comandadas pelos norte-americanos.
Bastidores da missão
O desembarque dos astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin na região chamada de Mar da Tranquilidade aconteceria apenas no dia 21, enquanto o terceiro membro da missão, Michael Collins, aguardava a dupla no módulo de comando que orbitava o astro.
Amrstrong, comandante da missão, ganhou a fama de primeiro homem a andar na superfície da Lua. Além disso, o astronauta norte-americano é dono de uma das frases mais famosas e difundidas na história da humanidade.
— Um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade.
O companheiro de Armstrong, Buzz Aldrin – que inspirou o personagem da animação Toy Story – esteve no Brasil para uma palestra na Campus Party, em 2013 e explicou a razão de ter sido o “segundo homem” a pisar no satélite. Segundo Aldrin, Armstrong era o comandante da missão e “estava mais perto da porta de saída do módulo espacial”.
O astronauta também creditou o sucesso de sua missão ao ex-presidente americano John F. Kennedy, que foi o grande incitador das missões. À época da Apollo 11, o presidente norte-americano era outro: Richard Nixon, de quem os astronautas receberam uma ligação enquanto estavam na Lua. Influência na tecnologia atual Uma chegada tão “midiática” com transmissão de TV diretamente da Lua não foi recebida sem alguma descrença por parte das pessoas em geral.
Michael Collins (esquerda) e Buzz Aldrin se encontram em homenagem à Neil Armstrong, falecido em 2012 NASA/Bill Ingalls
O que poucas pessoas sabem é que os smartphones tão usados atualmente são praticamente provas de que essa viagem realmente aconteceu. Afinal, o salto referido por Armstrong em sua famosa frase é muito mais tecnológico do que retórico.
Diretor industrial da Inbra Aeroespace e doutor em Engenharia Aeronáutica e Mecânica pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Melis de Bruyn, afirma que as missões espaciais tornaram possível a existência de muitas das tecnologias populares nos dias de hoje.
— Certamente houve uma grande transferência tecnológica para as áreas de uso cotidiano, Como esta transferência ocorreu paulatinamente, ela foi assimilada naturalmente. Áreas como a fabricação de microchips, possibilitaram a existência de calculadoras eletrônicas portáteis, microcomputadores e, mais recentemente, laptops, telefones celulares, tablets e smartphones. Todos são resultados das miniaturizações de circuitos complexos dos computadores de bordo que comandaram a navegação das naves Apollo. Posteriormente, os sistemas de GPS, tão popularizados atualmente, são resultados indiretos do mesmo processo de desenvolvimento.
Para o editor-chefe da Scientific American Brasil e doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo), Ulisses Cappozoli, é “difícil dizer o que não foi afetado por essa viagem de conquista na Lua”. Segundo, Cappozoli a corrida espacial está entrelaçada com as raízes da informática e várias outras áreas de conhecimento.
— Muitos historiadores dizem que essa conquista foi uma questão militar, não é verdade. De fato existia uma disputa militar e é claro que os americanos chegaram lá, mas os americanos, nesse caso, são a humanidade. Você tem todo um suporte de ciência que permitiu isso, como Newton, Galileu. E esse suporte é de história do conhecimento da humanidade.
Complementando a explicação de Ulisses, Bruyn analisa que foi necessário criar e prever uma série de situações para tornar possíveis as viagens ao espaço.
—Na época, havia duas grandes preocupações na viabilidade de uma viagem tripulada até a Lua. Uma delas era de produzir naves com a capacidade de vencerem a força gravitacional da Terra, saírem de sua atmosfera e ainda serem capazes de navegar até a Lua e retornar com a tripulação sã e salva. Um grande feito de engenharia, mas basicamente uma questão de transporte. A segunda era de ordem biológica, pois não se sabia se o corpo humano resistiria aos esforços durante o lançamento, assim como se não sofreria outros efeitos com a falta de gravidade e com a exposição a vários tipos de radiação. O que implica que as naves contam com sistemas de suporte de vida.
Fonte: Assuntos Militares por R7