Holandeses querem fazer Big Brother em Marte

 

Em uma declaração divulgada na internet, os criadores do projeto afirmam que, com os US$ 6 bilhões (mais de R$ 12 bilhões) gerados graças ao maior espetáculo de televisão já realizado, a equipe conseguirá o conhecimento e os recursos necessários para estabelecer uma colônia permanente em Marte.

Bas Lansdorp, de 35 anos, fez fortuna vendendo ações de sua companhia de energia eólica e agora lançou o projeto Mars One, que pretende ser um programa que mostra desde o processo de recrutamento dos exploradores, a viagem para o planeta vermelho e o estabelecimento da colônia em Marte.

O projeto já foi “curtido” ao menos 8 mil vezes no Facebook e o vídeo de apresentação do Mars One já teve mais de 800 mil exibições no YouTube. Até o momento, toda a iniciativa, incluindo uma viagem até a Nasa para aconselhamento, usou verbas próprias dos empreendedores envolvidos no projeto.

“Se você analisar a equipe envolvida no Mars One, (verá) que nenhum de nós faria isto de brincadeira”, disse Lansdorp em entrevista à BBC. “Se uma missão para Marte acontecer queremos participar e se fizemos algum esquema agora e não funcionar, ninguém vai nos incluir no projeto real”, disse.

Objetivos

O objetivo do projeto é estabelecer um assentamento humano em Marte em 2023. Os empreendedores já conseguiram fazer uma lista de possíveis fornecedores, mas ainda não conseguiram patrocinadores.

O objetivo é recrutar os participantes da missão em 2013 e então submetê-los a uma simulação rigorosa e treinamento durante uma década. Já a Nasa espera enviar uma equipe para Marte apenas em 2030.

Bas Lansdorp afirma que a solução para passar na frente dos cientistas da Nasa é simples. “Não vamos trazê-los de volta. É uma passagem só de ida. Eles vão passar o resto da vida em Marte.” Mesmo com esta perspectiva, o projeto Mars One espera receber milhões de inscrições.

Experiência russa

A história parece familiar principalmente se for levada em conta a experiência lançada pela Agência Espacial Europeia (AEE) na Rússia em 2009.

A experiência de 17 meses foi uma simulação de voo e visava analisar o impacto físico e psicológico de uma viagem para Marte.

Naquela ocasião, Christer Fuglesang, da divisão de Ciência e Aplicação da AEE admitiu que não era possível comparar a experiência de 17 meses com a jornada real, na qual os astronautas passam por situações como falta de gravidade ou de oxigênio.

E, se é difícil testar a realidade de uma viagem para Marte estando na Terra, fica ainda mais difícil acreditar no projeto Mars One quando se leva em conta que o empreendedor Bas Lansdorp contratou um dos fundadores originais do reality show Big Brother. Mas Lansdorp alega que o reality show “é apenas mais um componente para tornar possível” a viagem.

‘Louco’

Lansdorp afirma que é apaixonado por viagens espaciais desde criança, mas nem todos aprovam sua última iniciativa. “Minha namorada acha que sou louco”, disse.

Para o correspondente de ciência da BBC Jonathan Amos, o projeto tem grandes desafios. “Mesmo um pequeno grupo de astronautas terá que levar um grande carregamento de suprimentos. Mesmo se eles planejaram usar os recursos locais em Marte, levará tempo até que eles encontrem estes recursos e comecem a exploração”, disse.

A maior crítica observada nos fóruns de discussões online e também por Amos é que o projeto Mars One ainda não reconheceu outro risco, o da radiação. Na Terra, a população está protegida das partículas perigosas do Sol graças a um campo magnético.

Mas, a equipe que viajará para Marte não terá o campo magnético. “Eles ficarão expostos a uma taxa enorme de radiação ionizante. Sem um habitat resistente (a esta radiação) em Marte, o câncer os matará dentro de um ano”, disse Amos.

No entanto, Bas Lansdorp acredita que já encontrou uma solução. “O que você tem que fazer é um escudo, quer dizer, colocar objetos entre os astronautas e a radiação. Então, vamos garantir que haja um escudo na nave. E, em Marte, vamos protegê-los colocando uma grande camada de solo na superfície do planeta”, afirmou.

Ousadia e dinheiro

O projeto recebeu o apoio do físico holandês e ganhador do Prêmio Nobel Gerard’T Hooft. “Este é um projeto extraordinário, com visão e imaginação. Minha primeira reação foi como a de todo mundo: ‘isto nunca vai acontecer’. Mas agora, olhe e ouça com mais atenção, isto é realmente algo que pode ser feito”, afirmou.

Nem todos os cientistas estão convencidos. “Mars One é, certamente, uma iniciativa ousada com uma abordagem inovadora. Mas, no momento, o foco parece estar em conseguir dinheiro para o projeto na expectativa de que a verba vai garantir a solução dos problemas por outros”, afirmou Chris Welch, diretor do Programa Master na Universidade Espacial Internacional, na França.

“Mesmo ignorando a incompatibilidade entre a renda do projeto e as questões sobre sua viabilidade no longo prazo, a proposta do Mars One não demonstra uma compreensão suficientemente profunda dos problemas para dar confiança real que o projeto vai cumprir sua agenda ambiciosa”, acrescentou.

Fonte: BBC Brasil