Roger Waters destrói muro e homenageia Jean Charles em turnê.

Os 137 m de largura do muro construído no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (RS), para a turnê The Wall, trouxeram ao Brasil mais do que o histórico álbum do Pink Floyd e as inesquecíveis Another Brick in the Wall e Comfortably Numb. Os tijolos de Roger Waters entorpeceram quase 50 mil fãs com uma experiência quadrifônica e uma forte mensagem política, que começou com a Segunda Guerra Mundial e chegou ao ano de 2012 através de frases e imagens de repúdio a diversas formas de violência e intolerância. O baixista criticou o capitalismo, os símbolos religiosos e econômicos e a própria Inglaterra, seu país natal, que cometeu “um terrorismo de Estado” ao assassinar o brasileiro Jean Charles de Menezes.
“Dedico o concerto a Jean Charles e sua família pela luta pela verdade e justiça e a todas as vítimas do terrorismo de Estado”, disse o carismático Roger waters, em português. Ele abriu a ópera-rock com In The Flesh?, seguida de Thin Ice e Another Brick in the Wall. Já nas primeiras músicas, o público pode sentir uma profusão de vozes, sons e explosões em diversos cantos do estádio, que ajudaram a envolver os fãs no ambiente intimista e sombrio do álbum.À medida que o show avançava, o muro ia sendo construído, até que se tornou um imenso projetor de altíssima definição. Algumas animações, como o contato entre duas flores que fazem alusão ao afeto e disputa dos sexos masculino e feminino em Empty Spaces, resgataram o conceito psicodélico do filme, exibido pela primeira vez em 1982. Outras projeções mostraram a ironia de Waters com relação aos governos, especialmente na canção Mother, quando ele pergunta “devemos confiar no governo?”, e responde de uma forma não muito educada, mas que rendeu gritos de aprovação.Na primeira parte do show, o maior destaque ficou com Another Brick in the Wall e o coral de crianças da ONG Canta Brasil. “Estou muito feliz de estar aqui e quero agradecer as crianças que cantaram comigo”, falou o britânico. Waters encerrou o lado A do espetáculo projetando a fase decisiva da vida de Pink, personagem central do The Wall, e os dilemas que ele enfrentaria até se libertar de todos os muros que o prendiam. Mais de 30 anos após o lançamento do disco, o baixista procurava mostrar que a guerra permanece viva e apenas mudou de cara, causando dor a diversas nações do mundo.Derrubem o muro!Ao fim do primeiro bloco, com Good Bye Cruel World, o muro era uma barreira que separava completamente público e banda, sendo preenchida pela projeção de mortos de guerra em fotos enviadas por suas famílias. A temática bélica estava presente em todos os momentos e era mostrada como uma dura realidade, como Waters cantou em Hey You.Os bonecos gigantes do professor, da mãe opressora e da mulher vingativa retratavam os demônios enfrentados pelo roqueiro em busca de identidade, superação dos traumas e uma vida menos vazia. Como no filme, o personagem se entrega e dá adeus em Comfortably Numb, ressurgindo a seguir como o líder de uma seita estranha, comandada por ele próprio.As crises encenadas por Waters e potencializadas nas projeções e músicas chegam ao ápice no julgamento do cantor, em The Trial, onde ele é condenado a expôr os seus sentimentos para um mundo ávido por censurá-lo. É a vazão para o desfecho da história de Roger Waters e de um mundo que segue em guerra, como o baixista ressalta magistralmente nas duas horas de The Wall.Depois de julgar e condenar, a corte animada de The Wall manda destruir os tijolos e conclama o público a gritar junto “derrubem o muro, derrubem o muro!” Os tijolos vêm abaixo e os músicos tocam sobre as ruínas com acordeom e trompete a amena Outside the Wall. É o desfecho da história de vida de Waters, que permanece viva na sua música e na sua mensagem. Em 29 de março e 1º e 3 de abril, os próximos muros serão destruídos no Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente.

 

Roger Waters e Eric Clapton – Wish you were here.

“Para assistir ao vídeo, abaixe o volume do player da rádio.”

 

https://youtu.be/PK3zGmJd1nA

 

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