O acaso não existe – Valentim Fernandes.

Tudo que nos acontece tem um fim útil e providencial. Theóphile Gautier, poeta, novelista e jornalista francês já dizia: “O acaso é talvez o pseudônimo de Deus, quando não quer assinar”.

O que nos leva a essas reflexões é o fato de, muitas vezes, não entendermos e não aceitarmos aquilo que a vida nos reserva, como um meio de oferecer possibilidades de crescimento espiritual. Afinal, não somos um corpo que tem um Espírito, mas um Espírito que tem um corpo, mergulhados em experiências necessárias para a evolução.

Nos últimos dias, os meios de comunicação deram ênfase em seus noticiários aos ganhadores de um bolão da mega-sena de São João. Na verdade, a ênfase foi apenas pelo fato de um dos companheiros de trabalho, não ter entrado no jogo que acabou por premiar os demais, ele que sempre participara dos jogos que não foram premiados. Caso ele também tivesse ganhado, a repercussão em cima do fato teria sido menor, isto porque todas as aspirações dos homens, salvo as exceções, estão voltadas para os valores materiais.

Vamos ao outro lado da moeda. Muitos poderão dizer que dinheiro não traz felicidade, manda buscar. Que dinheiro não é saúde, mas compra o remédio, além de outros “bordões” que vivem na boca do povo.

Mas será que Deus foi injusto com a pessoa que não ganhou o prêmio? Se entendermos que um dos atributos de Deus é ser soberanamente justo e bom; logo a injustiça não se aplica a Ele.

Entrevistado em um programa de televisão, Lucio Osório, o jovem que ficou de fora do bolão, disse que num primeiro momento ficou triste, mas que agora entendia que se não ganhou, existia um motivo para isso e que, com certeza, Deus reservava algo de bom para ele. Dentro de sua simplicidade enunciou uma grande verdade.

É comum vermos artistas, jogadores, pessoas que se deram bem na vida do ponto de vista financeiro dizer que Deus deu a eles mais do que mereciam. É claro que aí talvez esteja uma demonstração de agradecimento, mas isto não pode ser levado ao pé da letra, porque na Lei de Deus não existem privilégios, mas sim merecimento. Se não, como ficariam aqueles que mesmo possuindo talentos para as artes, serem bons naquilo que fazem e mesmo assim não conseguirem sucesso?

É claro que para tudo isso existe uma causa. Se buscarmos as origens dela nesta vida e não as localizarmos, com certeza estará nas vidas anteriores. Pensando assim, podemos entender melhor os mecanismos da Lei de Deus, e ver que tudo o que nos acontece é para o nosso bem. Assim se não conseguimos o sucesso financeiro, a fama, o prestígio ou ganhar prêmios, vamos buscar aquilo que possa nos dar equilíbrio suficiente para vencer os desafios da vida sem perder a confiança Naquele que nos criou.

Aqueles que ganharam o prêmio que motivaram as reportagens em virtude de existir um “perdedor” estão enquadrados dentro da lei do merecimento, porém na condição daqueles que estão recebendo um empréstimo, que poderão evidentemente usar em benefício próprio, mas que precisarão produzir algo de bom para os seus semelhantes para fazer com que as alegrias da vida material, lhes proporcionem também riqueza espiritual.

“O cofre de um banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza”. (Carlos Drumond de Andrade).

 


Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.