O UFC, o MMA e as Crianças

“Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo” (Jean Petit Senn -1792/1870)

Dias desses vendo toda a ênfase que se dava à luta entre Anderson Silva e Chael Sonnem, pelo UFC, fiquei a pensar no quanto isso pode influenciar a vida dos nossos jovens e consequentemente a sociedade.

É claro que devemos respeitar todas as escolhas feitas pelos seres humanos; que não devemos interferir no livre-arbítrio de ninguém, mas podemos fazer algumas reflexões em cima de determinados acontecimentos para deles extrairmos um ensinamento.

Qual o princípio fundamental do UFC (Campeonato de Luta Final) e do MMA (Artes Marciais Mista)? Violência! Ganha aquele que melhor agride o adversário. Esta é a regra do jogo. Porém, além da luta em si, que por si só bastaria, existe o antes e depois, onde os oponentes, para promoverem o evento, fazem um show de provocações, de ameaças e de troca de farpas onde em momento algum aparece o espírito esportivo, lançando nos torcedores um desejo de vingança que irá se converter em vibração a cada golpe desferido. Na televisão uma cena de violência que dura apenas alguns segundos pode ser recordada em longo prazo mais do que qualquer outra imagem da história.

O que muitos não sabem é que muitas dessas provocações não passam de encenação com o objetivo de atrair a atenção do público, em que as partes interessadas valorizam ao máximo com o propósito de aumentar a audiência no dia da luta. Até a pouco tempo havia no Brasil interesse pelo UFC ou pelo MMA?

Toda essa valorização faz com que as nossas crianças, que já ficam a maior parte do seu tempo nos videogames, onde para passar de fase têm sempre que matar algo, comecem a ter como “heróis” estes campeões. As brincadeiras infantis e ingênuas de antigamente foram substituídas por golpes, saltos, pontapés, chaves etc. Quando da luta de Anderson Silva e Chael Sonnem, a televisão fez questão de mostrar uma criança que estava uniformizada igual ao lutador usando até um protetor bucal, desferindo socos no ar; cenas reprisadas em outros programas. Ela não foi até lá sózinha e nem tampouco comprou a roupa. O espírito André Luiz no livro Sinal Verde, na mensagem Ante os Pequeninos nos adverte: “A mente infantil dar-nos-á de volta no futuro, tudo aquilo que lhe dermos agora”.

Considerando que somos espíritos em evolução e que trazemos do passado tendências a serem vencidas e que o período infantil é o mais adequado para o aprendizado, devemos nos preocupar com o que estamos fazendo para que essas tendências sejam transformadas em capacidades criadoras do bem e do belo. O interesse por esse tipo de atividades por parte dos adultos é que faz com que aflore nas crianças e nos jovens o gosto por esses “esportes”, que faz emergir dos seres os seus instintos mais primitivos, que os aproxima da barbárie quando já poderiam estar conscientes de que a época dos duelos já ficou para trás, afinal já nos consideramos civilizados. Ou não?  Enquanto nos deixarmos levar por aquilo que mídia nos impõe como sendo perfeitamente normal, vamos continuar a ver todos os dias noticiários abarrotados de acontecimentos que ferem os nossos sentidos.  A inspiração para as reflexões veio do UFC e do MMA, mas se aplica a toda e qualquer situação onde a violência e agressividade estejam presentes, pois as crianças apenas imitam o que veem.


Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.