Os avanços da ciência tornaram a aventura lunar muito mais fácil para quem pretende explorar o satélite nos dias de hoje. “Graças às pesquisas científicas no setor aeroespacial, desde 1969, a tecnologia aplicada às espaçonaves foi bastante desenvolvida”, garante o cosmonauta Marcos Pontes, que viajou ao espaço em 2006, pela Missão Centenário. O brasileiro acredita que o retorno do homem ao corpo celeste ocorrerá antes de 2020, através dos chineses. Porém, mesmo com tecnologia mais avançada, ainda há riscos.
Embora o conhecimento adquirido naquela época ajude, muitas dificuldades da década de 1960 seguem existindo. São necessários foguetes potentes, controles precisos e uma infraestrutura completa, de água, ar, temperatura e comida, para manter os astronautas vivos. Marcelo Gleiser, professor de Física e Astronomia no Dartmouth College, nos Estados Unidos, acrescenta aos riscos as possíveis falhas mecânicas ou eletrônicas, exposição à radiação e a possibilidade de colisão com microgrãos de poeira cósmica.
A Apollo 13 é um exemplo de que nem todo o planejamento e toda a precaução podem garantir o sucesso de uma empreitada desse tipo. “As viagens espaciais nunca serão rotineiras, e o risco estará sempre presente”, argumenta Rui Barbosa, historiador espacial e editor do site Boletim Em Órbita. A própria Apollo 11 teve problemas. Segundo o diretor da missão na época, Gene Kranz, em entrevista anterior concedida ao Terra, foi uma batalha chegar à superfície da Lua. “Tivemos problemas com comunicação, problemas com navegação, problemas com computador e pequenos problemas elétricos”, relata.
Mas, é claro, muita coisa mudou para melhor. De acordo com Pontes, um astronauta hoje conta com melhores materiais (permitem menos peso, maior resistência mecânica e química), melhor eletrônica (maior fluxo de dados de comando e telemetria, menores circuitos, mais potência de sinal, maior clareza de sinal), melhores computadores e softwares (melhor navegação, melhor controle dos sistemas) e melhores motores (melhor rendimento). “Isso só foi possível graças ao acúmulo de conhecimento científico adquirido, e da coragem dos astronautas que se arriscaram para experimentar e melhorar os sistemas na condição de operação”, afirma o astronauta brasileiro.
Quando voltaremos à Lua?
O Programa Apollo, originado após o objetivo traçado por Kennedy, teve missões anteriores à chegada do homem à Lua. Elas visavam incrementar a tecnologia, treinar os astronautas e solidificar o conhecimento para que finalmente a meta fosse cumprida, em 1969. Depois da vitória contra os soviéticos na contenda espacial, no entanto, os EUA cancelaram o projeto, em 1972. Doze astronautas pisaram no satélite natural da Terra. “Cientistas e tecnólogos que trabalharam no projeto, na época, ficaram muito descontentes. Foi uma desilusão para eles, pois o plano de estudar a Lua in loco estava apenas começando”, argumenta José Monserrat Filho, chefe de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB) e professor de Direito Espacial.
Desde então, muito já se especulou a respeito de novas investidas. Montserrat defende esse retorno: “A Lua deverá ser uma plataforma para os voos espaciais no futuro. Ela é um laboratório. Tem muito que se fazer e descobrir, como, por exemplo, a sobrevivência em condições tão baixas de gravidade. É um centro de preparação para as viagens no futuro”. Pontes também acredita nisso. “Ainda temos muito a aprender operando do ‘posto avançado’ da Terra em termos de observação astronômica, desenvolvimento de alternativas de energia, desenvolvimento de soluções de projeto de sistemas de exploração espacial”, acredita.
Segundo Gleiser, contudo, um agravante para retornar à Lua são os enormes custos e uma falta de justificativa maior. “Se antigamente existia a Guerra Fria, no futuro imagino que a corrida espacial se torne algo privatizado, e será o capitalismo a mola propulsora, como já começa a ser o caso”, projeta o professor.
O capitalismo pode até ser ainda a mola propulsora, porém, a aposta de Pontes para o futuro próximo da Lua reside em outro sistema de governo. O astronauta brasileiro não vê grandes chances de a Nasa arregimentar nova missão tripulada tão cedo. “Acredito que, na presente situação, os chineses são bons candidatos para ‘pisar’ na Lua antes de 2020”, conclui.
Fonte: Terra