“Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo o que lhe pedimos” (William Shakespeare)
Quando olhamos o mundo apenas com os olhos da matéria, deixamos de enxergar a grandiosidade de Deus, porque nos apegamos apenas no aqui e nos esquecemos de que somos espíritos imortais, com a destinação de sermos felizes.
Essa falta de conhecimento dos objetivos da vida aqui na terra, faz com que alguns acabem por achar que Deus olhe com mais cuidado para uns que para outros. As diferenças sociais, a opulência de poucos e a miséria de muitos, somadas as atitudes de humanos que muitas vezes estão mais próximas da animalidade do que da razão, acaba por gerar este descontentamento.
Na verdade, Deus olha a todos com igualdade e isso não é segredo para ninguém, mesmo porque todas as religiões ensinam que Deus é Amor. Precisam, porém, acrescentar a isso um novo ingrediente; que Ele não castiga e que tudo o que acontece na vida das criaturas tem como objetivo levá-las à evolução.
Muitas vezes queremos além do que precisamos e achamos que fomos abandonados. Porém, temos na medida exata das necessidades espirituais. Como dizia Shakespeare, deveríamos é agradecer por não receber tudo o que pedimos, pois se não obtivemos foi em nosso próprio benefício.
Interessante pensar que os pedidos são os mais variados possíveis. Uns querem um emprego melhor; outros só trabalhar. Uns querem uma refeição mais farta; outros só a refeição. Uns querem uma vida mais amena; outros apenas viver. Uns querem os óculos mais bonitos; outros apenas enxergar, etc.
Jesus ensinou que se buscássemos o reino de Deus e sua justiça que tudo o mais nos seria dado por acréscimo. Jesus valeu-se de exemplos tão simples para transmitir ensinamentos tão profundos cujo significado maior ainda não foi assimilado por nós.
Isso nos faz entender que o motivo das nossas preocupações deve ser o bem estar espiritual. Não quer dizer que não temos o direito de buscar o melhor do ponto de vista material, mas que a busca deve ser feita de maneira racional e com ética, sem prejuízos ao próximo. Analisando a nossa vida na Terra, segundo nos ensina o Espiritismo, a verdadeira propriedade não está nos bens que o homem encontra aqui ao chegar ou naqueles que consegue amealhar ao longo dos anos, mas, sim naquilo que lhe é dado levar deste mundo, quando tiver de deixá-lo.
Encontramos em o Evangelho Segundo o Espiritismo, obra de Allan Kardec, ensinamento extraído de mensagem do Espírito Pascal, que nos mostra com clareza aquilo que realmente devemos almejar enquanto aqui estamos: “Que então o que ele possui? Nada o que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste”.
Assim sendo o que de mais importante enquanto aqui estamos não são os prazeres passageiros, tão pouco os bens materiais, mas sim aquilo que poderá nos acompanhar além da vida na matéria, que são as virtudes conquistadas. Numa época em que muito vamos ouvir falar em coligações, projetos, promessas e planos, não nos esqueçamos que o Criador tem o melhor plano de governo para a vida dos seus filhos e que “a cada um será dado segundo as suas obras”. Nem mais, nem menos, só o necessário! Nem privilégios, nem abandono! Só o que precisamos!
Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.