Os nove meses de gestação podem parecer infinitos para os futuros papais que estão ansiosos para ver o rosto de seu filho. Mas é pouco tempo para que haja um avançado desenvolvimento do cérebro: o cérebro dos bebês humanos tem apenas 30% do tamanho que irão atingir quando forem adultos, em comparação com 40% dos filhotes de chipanzés.
Esse é um dos motivos que torna os bebês totalmente dependentes de adultos, com pouca capacidade cognitiva e motora em comparação a outros filhotes de primatas. A realidade é que seria necessário um período de gestação de 18 a 21 meses, ao invés de nove, para que o cérebro dos bebês crescesse o suficiente para que eles se desenvolvessem mais rapidamente depois de nascer, de acordo com o zoólogo Adolf Portmann.
Por anos, os cientistas acreditavam que os nove meses de gestação eram decorrentes do “dilema obstétrico”. Os humanos se diferenciam dos outros animais pelo tamanho de seu cérebro e pela capacidade de andar ereto. Entretanto, se o cérebro do bebê se desenvolvesse durante uma gestação que durasse mais do que nove meses, pesquisadores acreditavam que seria necessário que a mãe tivesse um quadril mais largo para que o filho tivesse espaço para sair pelo canal do parto. Entretanto, com um quadril mais largo, teoricamente as mulheres poderiam não andar de forma bípede.
Nova teoria
Um novo estudo realizado pelo pesquisador Holly Dunsworth, da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, indica que o período de gestação não tem ligação direta com o tamanho do quadril da mãe, mas com seu metabolismo. O primeiro problema com o “dilema obstétrico” é que não há nenhuma evidência de que quadris largos interferem na locomoção. Anna Warrener, pesquisadora da Universidade de Harvard (EUA), estudou como a largura do quadril interfere o modo como mulheres andam em esteiras. Ela descobriu que não há correlação entre quadris mais largos e locomoção menos eficiente.
De acordo com Dunsworth, a duração da gestação entre vários mamíferos tem a ver com o tamanho total do corpo da mãe e de sua taxa metabólica. O pesquisador acredita que o nascimento humano acontece quando a mãe não tem condições de colocar mais energia na gestação para crescimento do feto. Ou seja, a energia da mãe é a principal restrição evolutiva na gestação, e não o tamanho do quadril feminino.
Zona de perigo metabólico
Analisando dados metabólicos de mulheres grávidas, pesquisadores descobriram que as mulheres dão à luz quando estão prestes a entrar em uma zona de perigo metabólico. Há um limite de número de calorias que podemos queimar a cada dia. Durante a gravidez, as mulheres se aproximam desse limite energético e dão à luz antes de alcançá-lo.
Essas restrições metabólicas ajudam a explicar por que os bebês humanos são tão impotentes em comparação com nossos parentes primatas, como os chimpanzés. Um bebê chimpanzé, por exemplo, começa a andar em um mês, enquanto os bebês humanos não andam até completarem pelo menos sete meses.
Mas para um ser humano dar à luz a um bebê com o mesmo nível de desenvolvimento dos filhotes de chipanzé, seriam necessários 16 meses de gestação – o que faria com que as mães cruzassem a zona de perigo metabólica. Em outras palavras, uma gestação tão longa seria impossível do fisiologicamente, independentemente do tamanho no quadril.
Fonte: Hypescience