Uma empresa emergente inglesa anunciou ter desenvolvido uma tecnologia que permite produzir combustível a partir de ar e água.
Mais precisamente, a partir de hidrogênio e gás carbônico, a substância que costuma ser responsabilizada pelas mudanças climáticas.
O produto é o metanol, que pode ser processado para produzir combustíveis usados em motores de automóveis.
O princípio empregado pela Air Fuel Synthesis não é novo, embora nenhum grupo de pesquisas tenha conseguido fazê-lo funcionar de forma viável.
Apesar de estar sendo saudado pela imprensa como “gasolina feita de ar” – o próprio nome da empresa sugere isto – o processo está longe de ser eficiente, e nem mesmo compartilha de total entusiasmo dentro da comunidade científica que busca alternativas ao petróleo que sejam ambientalmente sustentáveis.
Estágio inicial
O protótipo fabricado pela empresa está em operação desde Agosto.
Funcionando em escala contínua, ele produziu cinco litros de combustível desde então.
O projeto agora é construir um reator maior, capaz de produzir uma tonelada de combustível por dia, o que dependerá de acordos com “potenciais parceiros tecnológicos e investidores”, segundo a empresa.
A empresa afirma ser possível construir esse reator em escala piloto dentro de dois anos. Uma refinaria em escala comercial, contudo, deverá levar ainda 15 anos de novas pesquisas e aprimoramentos.
A produção de combustível líquido a partir de hidrogênio e CO2 seria uma alternativa para países sem reservas de petróleo, ainda que, no atual estágio, não seja possível estimar o custo do metanol produzido por essa via.
O avanço técnico alcançado pelos pesquisadores da empresa inglesa é significativo.
Mas algumas ressalvas são importantes justamente porque são resultados anunciados por uma empresa, e estarem sendo repassados pela grande imprensa como se a solução técnica já fosse um produto à disposição dos consumidores.
Carros sem poluição
Apesar de representar um conceito capaz de substituir o petróleo, o processo está longe de representar uma das melhores alternativas no campo das chamadas energias limpas.
Isso porque o hidrogênio necessário para a reação é produzido por eletrólise da água, o que consome uma grande quantidade de energia elétrica.
Se o objetivo for movimentar carros, faz mais sentido usar essa eletricidade, devidamente armazenada em baterias, para alimentar diretamente veículos elétricos, sem as perdas de conversão.
No final, os veículos elétricos não emitirão poluição, enquanto os automóveis movidos pela gasolina derivada da nova rota de síntese de combustível continuarão emitindo poluentes exatamente como os atuais.
Economia do hidrogênio
A produção do hidrogênio é um dos maiores gargalos para que a tecnologia possa viabilizar a chamada economia do hidrogênio.
Neste caso, o que se propõe é o uso do hidrogênio em células a combustível, que produzem eletricidade diretamente, emitindo apenas vapor d’água como subproduto.
Recentemente, uma equipe norte-americana demonstrou a viabilidade de um princípio similar, mas muito mais interessante de todos os pontos de vista.
O processo também usa CO2 e hidrogênio, mas o hidrogênio é produzido por energia solar. O produto final é o isobutanol.
Teoricamente, o hidrogênio produzido por energia solar pode ser usado na conversão do CO2 para sintetizar combustíveis líquidos com alta densidade de energia, o que também pode ser feito usando microrganismos geneticamente modificados.
Economia do CO2
A ideia de usar o CO2 para fabricar combustíveis, está sendo igualmente perseguida por várias vias.
Em 2010, uma equipe apresentou uma versão similar o conceito, baseado em um óxido de terras raras.
Fonte: Inovação Tecnológica