A amizade e a ingratidão – Valentim Fernandes

Na guerra…

– Meu amigo ainda não regressou do campo de batalha, senhor. Solicito permissão para ir buscá-lo, disse um soldado a seu superior.

– Permissão negada, respondeu o oficial. Não quero que você arrisque a sua vida por um homem que provavelmente está morto.

O soldado desconsiderando a proibição saiu, e, uma hora mais tarde regressou mortalmente ferido, transportando o cadáver de seu amigo.

O oficial ficou furioso.

– Eu te disse que ele já estava morto! Agora, por causa da sua indisciplina, eu perdi dois homens! Diga-me, valeu a pena ir até lá para trazer um cadáver?

E o soldado moribundo, respondeu:

– Claro que sim, senhor! Quando encontrei meu amigo, ele ainda estava vivo e pôde me dizer: “Eu tinha certeza que você viria!”

O dicionário Aurélio define a amizade como sendo sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas que geralmente não são ligadas por laços de família ou atração sexual.

A maioria dos problemas do ser humano está exatamente na maneira de como ele administra as suas amizades. Acham que o outro deve lhe ser fiel, embora nem sempre retribuam na mesma proporção. Quando alguém lhe contraria, o coloca na condição de ingrato.

Em todos os acontecimentos da vida está presente a oportunidade de aprendizado, considerando sempre o espírito imortal que somos. Em o Livro dos Espíritos, obra básica da Codificação Espírita encontramos a seguinte orientação na questão 937:

– As decepções causadas pela ingratidão e a fragilidade da amizade também não são para o homem de coração uma fonte de amargura?

– Sim; mas já vos ensinamos a lastimar os ingratos e amigos infiéis: eles serão mais infelizes que vós. A ingratidão é filha do egoísmo, e o egoísmo encontrará mais tarde corações insensíveis, como ele mesmo foi. Pensai em todos que fizeram mais o bem do que vós, que valeram muito mais do que vós, e que foram pagos com ingratidão. Pensai que o próprio Jesus foi zombado e desprezado quando na Terra, tratado de velhaco e de impostor, e não vos espanteis que o mesmo possa acontecer convosco. Que o bem que fizestes seja vossa recompensa neste mundo, e não vos preocupeis com o que dizem aqueles que o receberam. A ingratidão é uma prova para vossa persistência em fazer o bem e será levada em conta. Os ingratos serão tanto mais punidos quanto maior tiver sido a sua ingratidão.

A amizade, portanto, é de fundamental importância para a nossa evolução, porque nos dá o ensejo, de através do nosso comportamento, diante das adversidades, mostrar a quanto anda a nossa evolução. Se ainda lamentamos a ingratidão é porque não entendemos ainda o verdadeiro significado do que é ser amigo. Como nos ensina o Espírito Joanna de Ângelis, a amizade de Jesus pelos discípulos e pelas multidões dá-nos, até hoje, a dimensão do que é o amor na sua essência mais pura, demonstrando que ela é o passo inicial para essa conquista superior que é meta de todas as vidas e mandamento maior da Lei Divina.

Para terminar, podemos concluir que um amigo de verdade, sendo ou não alvo de ingratidão, é aquele que chega quando todo mundo já se foi, e tem a felicidade de ouvir:

– “Eu tinha certeza que você viria”.

 

Valentim Fernandes. Reside na cidade de Matão e é espírita desde 1989. É presidente do conselho deliberativo e diretor de doutrina do Centro Espírita Allan Kardec. Realiza palestras nas cidades da região sempre abordando temas do Evangelho.