Ex-presidiário abre marcenaria, emprega ex-detentos e muda a vida de todos

Oitenta pessoas, munidas de protetores nos ouvidos para suportar o barulho das trituradoras gigantes de madeira, trabalham das 7h às 19h em um espaço especial criado a partir da inspiração de um ex-detento: Fernando Figueiredo.

O sonho nasceu na época em que ele estava preso, pagando sua dívida com a sociedade. A ideia era oferecer a marginalizados uma saída digna da vida do crime.

Há quatro anos, a inspiração se tornou real. Fernando criou a Cooperativa Sonho de Liberdade.

Atualmente, a cooperativa emprega 20 presidiários, que cumprem regime semi-aberto; 10 ex-presidiários e 50 pessoas da comunidade de Santa Luzia, localidade a 10 km da parte central de Brasília, onde se encontra a empresa.

A cooperativa chega a ter um bom faturamento e colabora com a sociedade, segundo o idealizador. “Já temos CNPJ e faturamos cem mil reais por mês. Ainda não temos lucro e grande parte do dinheiro é para pagamento dos funcionários que recebem de cinquenta a cem reais por dia. Mas estamos crescendo e, qualquer dia desses, vamos começar a triturar pedras que vêm das construções”, enfatiza Fernando.

Livre do Crack

Além de reaproveitar madeira, o trabalho na cooperativa reinsere homens à sociedade. O velho ditado diz que o trabalho enobrece o homem e isso se faz real na cooperativa sonhada por Fernando Figueiredo.

O marceneiro, carpinteiro, serralheiro, eletricista, tapeceiro e inventor, José Divino Vieira, de 46 anos, se recupera do vício com muito trabalho.

O “McGuiver”, como é conhecido pelos colegas cooperados, utiliza madeira reaproveitada para produzir 30 pequenos sofás em três horas de intenso trabalho, num pequeno quartinho de madeira, que ganhou de Fernando para morar.

“Minha ideia é chegar a 80 sofás por dia. Estou inventando uma máquina para fazer o trabalho mais rápido”, complementa Divino.

Mas para chegar a toda essa produção, o ex-usuário de drogas passou por caminhos que considerou “tenebrosos”.

O goiano de Anápolis perdia aquela guerra e roubava supermercados numa cidade próxima à Brasília. “Eu era mendigo. Meu negócio era roubar e fazer qualquer dinheirinho para comprar o crack”, afirma Divino, profundamente emocionado e com lágrimas nos olhos.

O marceneiro lembra que roubou um supermercado oito vezes, no mesmo dia. E, em vez de ser preso, recebeu do dono do estabelecimento a oportunidade de ser apresentado à Cooperativa.

E o homem de fé, agarrou a chance com unhas e dentes.

“Chegou a minha hora!”, afirma com veemência o habilidoso cooperado.

Hoje, Divino, que conhece bem o caminho das pedras, percorre as ruas das cidades próximas com um carrinho de mão lotado de sofazinhos e não consegue chegar ao destino de vendas muitas vezes. O material é todo vendido antes.

E o homem que não conseguia guardar cinco reais e gastava com drogas tudo o que conseguia ilicitamente, refaz a vida e volta a pensar na família, que mora em Barreiras, na Bahia, e não sabe ainda a recuperação dele.

“Quero reconquistar minha família, minha mulher e minhas duas filhas. Já abri uma poupança pra elas e logo, logo terei um carrinho para ir visitá-las.”, conta José Divino Vieira, com alegria.

Com informações da Agencia de Notícias UniCEUB

Fonte: Só Notícia Boa