Não é fácil ser astronauta. No espaço, as coisas não são iguais ao que são na Terra, incluindo a iluminação.
Na Estação Espacial Internacional (EEI), os astronautas são constantemente estimulados pelo ciclo de 90 minutos do nascer e do pôr do sol, além da presença constante do sistema de iluminação interior da estação.
Resultado? Menor produção de melatonina, hormônio chave na regulação do sono, e, portanto, sono mais agitado.
Se é fácil ter insônia até mesmo na Terra, imagina em tal ambiente conturbado e iluminado. É comum que os astronautas tomem pílulas para dormir com regularidade, e ainda assim muitos acabam dormindo uma média de apenas seis horas por noite, muito menos que as designadas oito horas e meia que eles deveriam dormir.
Todos nós sabemos como estar com sono pode nos deixar mal humorados, distraídos, cansados, até mesmo com fome. Para os astronautas, isso pode causar problemas graves, já que a atenção no espaço é muito importante.
Por conta disso, a NASA está desenvolvendo um projeto para mudar todas as lâmpadas a bordo da Estação Espacial Internacional, a fim de ajudar os astronautas a dormir melhor.
E como lâmpadas poderiam ajudá-los a dormir melhor? O conceito é baseado no fato de que os relógios do nosso corpo (ciclos circadianos) são influenciados pela exposição à luz.
Cerca de uma década atrás, cientistas descobriram um novo tipo de células sensíveis à luz aos nossos olhos. A descoberta é bastante extraordinária, considerando que já tínhamos conhecimento dos cones e bastonetes há séculos e nunca notamos o papel das células ganglionares da retina.
Essas células não têm nenhum papel na visão. Em vez disso, elas informam o núcleo supraquiasmático do cérebro que horas são. Isso significa que os olhos de mamíferos têm uma capacidade especial de “contar tempo”.
Os fotorreceptores das células ganglionares na frente da retina são capazes de detectar luz na extremidade azul do espectro. Estimular essas células pode afetar a percepção de uma pessoa de dia e de noite. Isto funciona, em parte, através da interferência com a produção de melatonina.
Quando estes receptores são expostos a um comprimento de onda particular de luz azul – não tão surpreendentemente, azul céu – nos sentimos mais alertas, porque o cérebro suprime a melatonina. Em contraste, o vermelho permite que a melatonina flua.
As novas lâmpadas visam explorar esta cronobiologia. A ideia é trocar as 85 lâmpadas fluorescentes na parte americana do laboratório orbital da EEI e substituí-las com LEDs especiais difusos, que podem filtrar a luz em diferentes tonalidades.
Assim, elas fornecerão luz branca durante o horário de trabalho, luz azulada de manhã ou quando for importante que os astronautas acordem para uma emergência, e luz avermelhada para ajudá-los a dormir.
Boeing e seus subcontratados estão trabalhando no projeto final e esperam entregar 20 lâmpadas até 2015.
Enquanto isso, os neurocientistas George Brainard da Universidade Thomas Jefferson e Steven Lockley da Universidade Harvard estão testando a eficácia das lâmpadas. Brainard está estudando se as luzes de fato ajudam as pessoas a dormir mais rápido em quartos simulados da EEI. Lockley está analisando se as luzes, em combinação com cafeína, ajudam voluntários a executar tarefas complexas durante o período noturno.
Mesmo que as lâmpadas se mostrarem um alívio para os astronautas, as razões para a insônia são muitas e variadas, da diferença de fuso horário ao ar viciado e ruído constante. Infelizmente, só a iluminação não pode mudar todos esses fatores – mas deve ajudar.
E se você ficou curioso ou intrigado com as lâmpadas difusas, a boa notícia é que você também poderá conferi-las em breve, já que a gigante de eletrônicos Philips anunciou recentemente sua nova lâmpada Hue, que pode ser ajustada para a extremidade vermelha ou azul do espectro usando um smartphone.
Fonte: Hypescience por [Gizmodo, ScientificAmerican].